12.04.2013 Views

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

As simples frases <strong>de</strong> benévola consolação foram o esplêndido fiat no vácuo<br />

do existir <strong>de</strong> Antonica; <strong>de</strong>compuseram-se e transformaram-se em <strong>ou</strong>tras tantas<br />

estrelas, asterismos tranqüilos, convergindo os raios em um único foco — a<br />

possibilida<strong>de</strong> do amor.<br />

Efetu<strong>ou</strong>-se a cura radical da l<strong>ou</strong>cura pela polarização da luz da esperança.<br />

O restabelecimento caminh<strong>ou</strong> <strong>de</strong>sassombrado e rápido e o amor atulh<strong>ou</strong><br />

com pétalas <strong>de</strong> flores a sepultura já hiante aos pés da <strong>de</strong>sventurada amante.<br />

Os serviços <strong>de</strong> Balbina foram <strong>de</strong>finitivamente dispensados e a escrava<br />

tom<strong>ou</strong> para os ingratos labores do eito e para o meio da consi<strong>de</strong>ração supersticiosa<br />

dos seus parceiros.<br />

O feitor era agora inexorável e exigente até a insensatez. Por maior que<br />

fosse a agilida<strong>de</strong> dos escravos achava-os sempre morosos, e não raras vezes<br />

vibrava o chicote sobre as costas nuas dos miseráveis trabalhadores.<br />

A sua atenção voltava-se peculiarmente para a tia Balbina, a quem<br />

alcunh<strong>ou</strong>-a marralheira.<br />

— Arriba! Arriba! Grit<strong>ou</strong> ele um dia, à medida que estalava o chicote sobre<br />

as espáduas da preta; não dormes <strong>de</strong> noite ocupada com a feitiçaria e <strong>de</strong> dia estás a<br />

cair <strong>de</strong> preguiça. Vê se ficas asseada com este espanador.<br />

Nem um ai escap<strong>ou</strong> aos grossos beiços da feiticeira, amarg<strong>ou</strong> calada a<br />

vingança, a ruminar a <strong>de</strong>sforra.<br />

À noite a preta foi <strong>de</strong> novo surpreendida pela cólera do feitor, que veio<br />

passar-lhe revista à senzala. Ach<strong>ou</strong> somente uns registros <strong>de</strong> santos, porque o mais<br />

a prevenida Balbina tinha posto em lugar seguro.<br />

Mas nem por isso o feitor julg<strong>ou</strong>-se quite com a feiticeira; na hora da revista<br />

matutina, cônscio <strong>de</strong> que <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> acreditá-lo-ia, Manuel João lavr<strong>ou</strong><br />

carregando as cores um libelo contra a escrava.<br />

— Não se po<strong>de</strong> aturar, disse ele, não quer trabalhar, continua com as<br />

feitiçarias e já me contaram que ela quer que o meu amo man<strong>de</strong>-a para a casa do<br />

seu senhor; porque — diz ela — vosmecê está comendo o suor alheio com o<br />

trabalho <strong>de</strong>la.<br />

— Então ainda não te <strong>de</strong>senganaste, negra? Brad<strong>ou</strong> o fazen<strong>de</strong>iro; eu v<strong>ou</strong><br />

dar-te o senhor e o feitiço. Fidélis! Peregrino! Agarrem-me aquele <strong>de</strong>mônio.<br />

Balbina não articul<strong>ou</strong> uma queixa, nem uma <strong>de</strong>sculpa, <strong>de</strong>ix<strong>ou</strong>-se ficar com<br />

os braços cruzados e a cabeça baixa. Os dois escravos obe<strong>de</strong>ceram e fizeram-na<br />

chegar até junto <strong>de</strong> <strong>Coqueiro</strong>.<br />

Principi<strong>ou</strong> então uma <strong>de</strong>stas cenas repugnantes e iníquas; os escravos<br />

ataram os pulsos <strong>de</strong> Balbina e amarraram-na pela cintura a um dos esteios do<br />

terreiro e cada um empunh<strong>ou</strong> um azorrague.<br />

O castigo ia ter lugar com a barbarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que são sempre alvo os<br />

feiticeiros, entes malditos e execrados pelos homens do sertão.<br />

Pelo braço <strong>de</strong> Mariquinhas apareceu, porém, no terreiro a agra<strong>de</strong>cida<br />

Antonica. Ao ver Balbina em semelhante posição; lavando-se em lágrimas a moça<br />

pediu que perdoassem a escrava, que tão prestativa lhe fora na enfermida<strong>de</strong>.<br />

O fazen<strong>de</strong>iro aten<strong>de</strong>u.<br />

76

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!