12.04.2013 Views

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

www.nead.unama.br<br />

Era o <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>.<br />

Ouvindo os gritos <strong>de</strong> socorro, e vendo o grupo correr em direção ao porto, o<br />

prestativo fazen<strong>de</strong>iro sentiu atravessar-lhe o espírito a lembrança das palavras <strong>de</strong><br />

Antonica: — é a ingratidão que me mata — e adivinh<strong>ou</strong> logo o que se passava.<br />

Montando no possante alazão em que sempre andava, e cravando-lhe<br />

<strong>de</strong>sapiedadamente os acicates, <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> pô<strong>de</strong> em alguns minutos arriscar a<br />

sua vida para salvar a moça.<br />

Nad<strong>ou</strong> direto a ela e segurando-a com um dos braços, com o <strong>ou</strong>tro rem<strong>ou</strong> à<br />

mercê das águas até po<strong>de</strong>r agarrar-se a um dos galhos da vegetação da margem.<br />

Dentro em alguns minutos <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> <strong>de</strong>itava sobre a grama o corpo<br />

imóvel <strong>de</strong> Antonica.<br />

A viveza encantadora <strong>de</strong> seu rosto fora substituída pela morte-cor <strong>de</strong> uma<br />

longa síncope; a luz suave e sedutora dos seus olhos fora trocada no brilho<br />

estagnado, próprio dos olhos dos cadáveres, e além <strong>de</strong> tudo isso os braços, quando<br />

eram levantados, caíam com o abandono da inércia.<br />

— Está morta! Está morta! Minha irmã! Minha filha! Pobre moça!<br />

Exclamavam todos chorando.<br />

Só o fazen<strong>de</strong>iro não havia até então perdido o sangue frio entre a mó <strong>de</strong><br />

parentes, escravos e agregados que cercavam Antonica.<br />

Ajoelhando-se junto <strong>de</strong>la, pôs-lhe a mão sobre o coração, e sentiu que ele<br />

ainda batia.<br />

Então como se fosse presa <strong>de</strong> uma l<strong>ou</strong>cura instantânea, tom<strong>ou</strong> nos braços o<br />

corpo molhado da moça, apert<strong>ou</strong>-o contra si, e cobriu-lhe <strong>de</strong> beijos a face lívida.<br />

A vizinhança do túmulo santificava esta explosão indômita do coração e<br />

longe <strong>de</strong> provocar estranheza serviu apenas para aviventar uma esperança.<br />

— Ela vive ainda, não é verda<strong>de</strong>, compadre; minha filha não morreu.<br />

— Vive, sim, para nós, para o seu amor, para a sua felicida<strong>de</strong>; respon<strong>de</strong>u<br />

<strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>, que não tinha mudado <strong>de</strong> posição.<br />

Depois, como se acordasse <strong>de</strong> um sonho, levant<strong>ou</strong>-se e grit<strong>ou</strong> para os<br />

escravos e os circunstantes:<br />

— Estamos aqui todos pasmados; vamos, levemo-la para casa; Deus a<br />

salvará.<br />

Durante mais <strong>de</strong> uma hora <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> e trabalho, ninguém, â exceção <strong>de</strong><br />

<strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>, aliment<strong>ou</strong> a mais fugitiva esperança <strong>de</strong> ver salva a moça.<br />

Todos abanavam a cabeça, exprimindo assim a certeza que tinham <strong>de</strong> que<br />

eram baldados os esforços feitos pelo fazen<strong>de</strong>iro, que sobreexcitado aconselhava e<br />

tomava ao mesmo tempo múltiplos expedientes.<br />

Antonica jazia <strong>de</strong>sacordada na imobilida<strong>de</strong> das estátuas, e apenas com um<br />

leve respirar correspondia à robustez da esperança do seu incansável salvador.<br />

À proporção que <strong>de</strong>sanimavam <strong>de</strong> todo, as pessoas da família retiravam-se<br />

para ir mais longe <strong>de</strong>rramar as lágrimas, que <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> não queria ver correr.<br />

Havia já largo espaço que, a sós, o fazen<strong>de</strong>iro velava junto à cabeceira <strong>de</strong><br />

Antonica, quando esta pela primeira vez, <strong>de</strong>pois da frustada tentativa <strong>de</strong> suicídio,<br />

abriu as pálpebras roxeadas.<br />

67

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!