Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Mas pe<strong>de</strong> para mirar-se<br />
No claro espelho da fonte.<br />
Ouve o canto da Mãe d'água<br />
Dentre os lábios <strong>de</strong> coral,<br />
E na harpa <strong>de</strong> fios <strong>de</strong> <strong>ou</strong>ro<br />
Sobre concha <strong>de</strong> cristal:<br />
— "Vem a mim, filha querida<br />
Vem findar as tuas dores;<br />
Eu tenho ricos palácios<br />
Para guardar teus amores".<br />
Em casa todos procuram:<br />
D. Branca on<strong>de</strong> estará?<br />
O noivo já no seu carro<br />
Na porta <strong>de</strong> casa está<br />
Pobre pai, os teus rigores<br />
Vão mudar-se em fundas mágoas,<br />
Da tua filha só resta<br />
O véu branco sobre as águas.<br />
www.nead.unama.br<br />
Ao fim da última estrofe, Antonica, toda inclinada para o rio, olh<strong>ou</strong><br />
tristemente o céu e <strong>de</strong>ix<strong>ou</strong>-se precipitar na corrente.<br />
Ao som do baque nas águas um grito <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero respon<strong>de</strong>u no grupo:<br />
— Socorro, Socorro! Gritaram todos.<br />
Francisco Benedito e seu filho, rápidos como um tufão, atravessaram a<br />
pequena distância que mediava entre o rio e o lugar em que se achavam, e<br />
precipitaram-se ao mesmo tempo, ao passo que as moças no auge da aflição<br />
gritavam a plenos pulmões:<br />
— Socorro! Socorro!<br />
Ao mesmo tempo vieram à tona os dois nadadores e a pálida Antonica, que<br />
se <strong>de</strong>batia quase sufocada.<br />
Francisco Benedito, porém, já não tinha forças para resistir à correnteza e foi<br />
<strong>de</strong>sviado pelo re<strong>de</strong>moinho das águas, e só o seu filho pô<strong>de</strong> aproximar-se <strong>de</strong><br />
Antonica, no momento em que ela submergia-se <strong>de</strong> novo.<br />
O corajoso rapaz mergulh<strong>ou</strong> no mesmo ponto, e, quando subiu à flor do rio,<br />
trazia segura pelo corpinho do vestido a moça já sem sentidos.<br />
A aflição cresceu nos espectadores; a p<strong>ou</strong>ca ida<strong>de</strong> do mocinho não lhe<br />
fornecia a força necessária para levar à cabo a empresa; era um joguete da<br />
correnteza, prestes a ser esmagado por ela, que lucraria assim mais uma vítima.<br />
O velho pai, agarrado ao galho <strong>de</strong> um ingazeiro, via, entre as torturas da<br />
impotência, esta dupla ameaça feita pela morte ao seu coração angustiado.<br />
Mas <strong>de</strong> repente uma esperança consoladora luziu em todos os espíritos; a<br />
violência das águas ce<strong>de</strong>u diante da robustez <strong>de</strong> um nadador <strong>de</strong>cidido.<br />
66