Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
tutu.<br />
www.nead.unama.br<br />
— É muito medrosa esta Chiquinha, diziam-lhe as irmãs, fic<strong>ou</strong> com medo do<br />
Nem o gracejo, nem os carinhos das irmãs conseguiram dissipar a tristeza<br />
da moça que, no isolamento, chegava até as lágrimas.<br />
Numa das ocasiões em que achava-se só, Chiquinha <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> absorver-se<br />
em prolongada meditação, ao enxugar as lágrimas que lhe borbulhavam, exclam<strong>ou</strong><br />
resolutamente:<br />
— Não quero mais enganar os meus; v<strong>ou</strong> acabar com isto.<br />
No dia seguinte <strong>de</strong>via começar a executar-se o contrato feito entre <strong>Motta</strong><br />
<strong>Coqueiro</strong> e seu compadre, para o embalsamento da ma<strong>de</strong>ira, e o fazen<strong>de</strong>iro foi<br />
portanto lembrá-lo ao agregado.<br />
— Amanhã não me falte, está <strong>ou</strong>vindo, compadre? eu tenho pressa do<br />
trabalho.<br />
— O compadre está <strong>de</strong>sejoso <strong>de</strong> matar sauda<strong>de</strong>s, mas olhe que não há<br />
tanto tempo assim que fic<strong>ou</strong> sem a comadre.<br />
— É isto, mas também <strong>ou</strong>tras razões, e eu quando for agora para Campos<br />
não torno cá tão cedo.<br />
A família <strong>de</strong> Francisco Benedito, que assistia à conversa, interveio então<br />
para mostrar-se penalizada com a nova. Antonica lev<strong>ou</strong>, porém, a <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong><br />
pesar a tal exagero, que não pass<strong>ou</strong> <strong>de</strong>spercebido a <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>.<br />
Conhecedor dos seus agregados e do comum dos roceiros nas mesmas<br />
condições, <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>, reatando a conversa, dirigiu-a <strong>de</strong> modo que pusesse<br />
bem patente as suas intenções.<br />
— Este trabalho que faz-me gran<strong>de</strong> conta, disse ele, é também um adjutório<br />
que o compadre tem para fazer a sua casa. Eu v<strong>ou</strong>-me embora, e o compadre bem<br />
sabe o que são negros; em eu voltando as costas pintam a manta por aqui.<br />
— Lembra muito bem, compadre, eu tenho <strong>de</strong> ir hoje ao Viana e lá falarei<br />
com ele sobre o negócio.<br />
Depois do jantar Francisco Benedito disse a sua mulher que ia à venda<br />
buscar provisões.<br />
— Vamos agora para o serviço do compadre, e ele é amo com quem não se<br />
brinca; começada a obra não há arredar pé.<br />
P<strong>ou</strong>co <strong>de</strong>pois da saída do pai, Antonica pediu a sua mãe que a <strong>de</strong>ixasse ir<br />
até a casa gran<strong>de</strong> falar com a Isabel cozinheira, que lhe ficara <strong>de</strong> dar uma camisa,<br />
para fazer-lhe por ela uma gola <strong>de</strong> crivo.<br />
— Eu quero ver se mando vir pela canoa um vestido para o Ano Bom, e<br />
quero segurar estes cobres, mamãe.<br />
A velha mãe não opôs obstáculo ao pedido da filha.<br />
<strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> estava sentado na sala <strong>de</strong> jantar da casa gran<strong>de</strong>, quando<br />
Antonica pass<strong>ou</strong> tão apressada como se não <strong>de</strong>sejasse ser vista.<br />
59