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Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Os dois guardaram silêncio durante a narração; quando o feitor concluiu,<br />

Sebastião tom<strong>ou</strong> a palavra.<br />

— Você não me faça tolice, seu Manuel João; que tem você com o<br />

<strong>Coqueiro</strong>? Se ele faz roda à pequena; seja você fino. Eu cá não serei logrado; faça o<br />

que eu fiz.<br />

— Mas o que é que você fez? Deixe-se <strong>de</strong> ro<strong>de</strong>ios...<br />

O violeiro cheg<strong>ou</strong>-se para mais perto do feitor e segred<strong>ou</strong>-lhe algumas<br />

palavras; <strong>de</strong>pois, levantando a voz, disse sorrindo:<br />

— Olha, o Viana não se amofina também; mais dia, menos dia... Você anda<br />

por aí como um palerma. Veja que não vá morrer <strong>de</strong> fome se sair da casa do<br />

<strong>Coqueiro</strong>.<br />

Manuel João tinha os olhos em fogo, e as narinas infladas; parecia<br />

alucinado.<br />

— Seu Viana, interrog<strong>ou</strong> ele com esforço <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> pausa, é<br />

verda<strong>de</strong> o que disse Sebastião? Você é capaz?<br />

— Ora, tire o cavalo da chuva, respon<strong>de</strong>u o ven<strong>de</strong>iro, você <strong>ou</strong> é um tolo <strong>ou</strong> é<br />

um brejeiro <strong>de</strong> conta. Olhem que santinho!<br />

O <strong>de</strong>sgraçado feitor nada respon<strong>de</strong>u; talvez tivesse vergonha das palavras<br />

que <strong>de</strong>via proferir.<br />

Até então nada podia provar que ele a<strong>de</strong>risse ao segredo soprado aos seus<br />

<strong>ou</strong>vidos pelo violeiro, tinha até nos olhos uma onda <strong>de</strong> lágrimas, as <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iras<br />

lágrimas puras que ele choraria em sua vida, se após elas não viessem as do<br />

arrependimento.<br />

Mas ao retirar-se compreendia-se que a sua cólera tinha asserenado e que<br />

se ele não levava uma resolução, afagava ao menos uma esperança.<br />

Quando Manuel João distanci<strong>ou</strong>-se, o ven<strong>de</strong>iro disse para o violeiro:<br />

CAPÍTULO IV<br />

— Aquele <strong>de</strong>mônio é bem capaz <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r-nos.<br />

— Não pense nisto, respon<strong>de</strong>u Sebastião, aquilo é um covar<strong>de</strong>.<br />

A EXECUÇÃO DE UM PLANO<br />

Ao voltar ao sítio o feitor foi recebido por uma repreensão áspera <strong>de</strong> <strong>Motta</strong><br />

<strong>Coqueiro</strong>.<br />

É que, saindo precipitadamente, esquecera <strong>de</strong> que dispunha <strong>de</strong> horas <strong>de</strong><br />

trabalho, consagradas a uma séria obrigação — fazer a revista.<br />

À noitinha os pretos vindos da roça <strong>de</strong>puseram na cozinha os feixes <strong>de</strong><br />

lenha, e encostando os machados e as enxadas da parte <strong>de</strong> fora, postaram-se em<br />

linha no terreiro.<br />

Depois <strong>de</strong> esperar por largo tempo, a conselho <strong>de</strong> Fidélis, levantaram a<br />

saudação usual: — l<strong>ou</strong>vado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.<br />

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