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Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Só se lhe <strong>ou</strong>via <strong>de</strong> espaço a espaço, levantando a cabeça e dando uma forte<br />

punhada, exclamar:<br />

— Não po<strong>de</strong> ser; aqui anda coisa, por força.<br />

E recaía no silêncio e na primitiva posição.<br />

Com um tabuleirinho, em cuja tábua viam-se um bule <strong>de</strong> lata, uma xícara e<br />

um prato com tapiocas, um molecote <strong>de</strong>sempenado, <strong>de</strong> semblante alegre e meneios<br />

francos, assom<strong>ou</strong> na porta do feitor, gritando:<br />

— Oh! Seu Manuel João, está aqui a ceia.<br />

Quando acab<strong>ou</strong> <strong>de</strong> falar, já o tabuleirinho estava sobre a mesa.<br />

Manuel João levant<strong>ou</strong>-se como quem acorda sobressaltado; mas em vez <strong>de</strong><br />

assentar-se <strong>de</strong> novo à mesa, caminh<strong>ou</strong> direito à porta, fech<strong>ou</strong>-a a chave, e <strong>de</strong>pois<br />

veio colocar-se ao pé do moleque.<br />

— Oh! Carlos, disse ele; tu queres ganhar uns cobres?<br />

— Se vosmecê me <strong>de</strong>r, eu gosto bem.<br />

— Estão aqui, disse o feitor, que tirara do bolso do paletó uma nota <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<br />

tostões.<br />

Carlos arregal<strong>ou</strong> os olhos e tartamu<strong>de</strong><strong>ou</strong> sorrindo:<br />

— Qual é a empreitada, seu Manuel João?<br />

— Jura primeiro que não contas a ninguém o que v<strong>ou</strong> te perguntar?<br />

— Por Deus, disse o moleque, cruzando dois <strong>de</strong>dos e beijando-os.<br />

— O amo, a ama, Os meninos e as filhas do Chico Benedito foram passear<br />

hoje <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>...<br />

— Sim, senhor, e eu também fui, por sinal que apanhei aquelas limas que<br />

vosmecê viu...<br />

— E isto mesmo. O amo fic<strong>ou</strong> com só Chiquinha e os <strong>ou</strong>tros vieram<br />

andando, não é?<br />

— E sim, eu logo vi que havia <strong>de</strong> dar na vista.<br />

— O quê? Eles on<strong>de</strong> ficaram?...<br />

— Não h<strong>ou</strong>ve nada, não senhor; mas é que é feio.<br />

— Escuta bem, Carlos, não me enganes; fala a tua verda<strong>de</strong>.<br />

— Não h<strong>ou</strong>ve nada, não; senhor e só Chiquinha ficaram sentados na pedra,<br />

e eu trepei na limeira. Se h<strong>ou</strong>vesse alguma c<strong>ou</strong>sa eu via tudo, que eu bem que<br />

estava assuntando.<br />

— Nem um beijo.<br />

— Qual o que, seu Manuel João; senhor já está velho; e ele não gosta <strong>de</strong> só<br />

Chiquinha, não senhor, que ainda agora eu <strong>ou</strong>vi lá na mesa ele estar falando com a<br />

senhora por causa do Sebastião.<br />

— Então ele gosta <strong>de</strong> alguma?<br />

— É <strong>de</strong> sá Mariquinhas, porque ele estava dizendo que é a mais sossegada<br />

<strong>de</strong> todas, e <strong>de</strong> mais juízo.<br />

À revelação do moleque correspon<strong>de</strong>u uma explosão colérica do feitor;<br />

estava fulo <strong>de</strong> raiva, espumava:<br />

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