Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
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www.nead.unama.br<br />
Um pigarro impertinente começ<strong>ou</strong> a impacientar Sebastião Pereira, e este<br />
inclin<strong>ou</strong>-se na janela para escarrar, porém logo voltando-se para <strong>de</strong>ntro, disse:<br />
— Mas eu não os vejo por aqui.<br />
— É que nós fomos à roça, respon<strong>de</strong>u Mariquinhas; eles ficaram mais<br />
atrasados colhendo limas, e nós com a família <strong>de</strong> seu capitão viemos andando. Mas<br />
eles já <strong>de</strong>vem estar ai pela baixada.<br />
— Qual o quê, quando vierem, vieram, respon<strong>de</strong>u o velho. Está em muito<br />
boas mãos.<br />
— Lá isso é, acrescent<strong>ou</strong> Sebastião inteiramente <strong>de</strong>speitado e olhando para<br />
os seus companheiros.<br />
— Aquele compadre é um folgazão, riu o velho, que fazia uma libação à<br />
caneca; brinca com essas raparigas como se fossem todos crianças.<br />
— E é bem <strong>de</strong> ver, rosn<strong>ou</strong> Sebastião.<br />
— Está vendo, Mariquinhas, aquele malvado tem dor <strong>de</strong> canelas; resmung<strong>ou</strong><br />
Antonica.<br />
— Deus esteja nesta casa, exclam<strong>ou</strong> fora a voz grossa <strong>de</strong> <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>;<br />
licença para dois.<br />
Chiquinha entr<strong>ou</strong> apressada e foi beijar a mão paterna e em seguida<br />
cumprimentar os hóspe<strong>de</strong>s.<br />
Estes <strong>de</strong> pé respon<strong>de</strong>ram à saudação da moça e a <strong>de</strong> <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> que,<br />
parado ao limiar, todo vestido <strong>de</strong> branco, arrimado com a mão esquerda a um polido<br />
manguá, e tendo na direita o chapéu-do-chile, <strong>de</strong>ixava ver o seu alto porte e a<br />
cabeça ao mesmo tempo simpática e severa, ornada <strong>de</strong> cabelos e barbas grisalhas,<br />
esbatidas em faces magras, porém coradas, uma <strong>de</strong>las marcada por um sinal<br />
roxeado e longo. Por <strong>de</strong>baixo das sobrancelhas salientes as pálpebras meio<br />
cerradas coavam-lhe um olhar penetrantemente bom e por entre os bigo<strong>de</strong>s<br />
grisalhos riam-lhe os lábios finos um sorriso <strong>de</strong>spretensiosamente austero.<br />
Voltando-se <strong>de</strong>pois para as irmãs, entre risonha e séria, disse-lhes<br />
Chiquinha:<br />
— Vocês fizeram da boa; vieram e <strong>de</strong>ixaram-nos sozinhos.<br />
— Moleque, cham<strong>ou</strong> <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>, entrega as limas das moças e leva as<br />
<strong>ou</strong>tras para casa.<br />
E continu<strong>ou</strong> logo sorrindo:<br />
— Está entregue; agora v<strong>ou</strong> cantar n<strong>ou</strong>tra freguesia. Boa noite, meus<br />
senhores.<br />
Saiu risonho e aparentemente satisfeito, mas quando estava um p<strong>ou</strong>co<br />
distante da casa; repetia em voz baixa: aquele compadre não tem um pingo <strong>de</strong> juízo.<br />
Logo que se acharam sós, exclam<strong>ou</strong> Chico Benedito para as filhas:<br />
— Então o que andam vosmecês fazendo, que me vêm hoje dois pedidos <strong>de</strong><br />
casamento aqui; isto é modo, meninas?<br />
As moças nada disseram, e o velho prosseguiu:<br />
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