Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Manuel João não replic<strong>ou</strong>, e o violeiro continu<strong>ou</strong>.<br />
www.nead.unama.br<br />
— Eu cá, se a Chiquinha não for minha, não há <strong>de</strong> ser <strong>de</strong> mais ninguém por<br />
mais pintado que seja.<br />
Ao dizer estas palavras, a sua mão estava posta sobre a cintura e logo uma<br />
gran<strong>de</strong> faca polida luzia fora da bainha, e Sebastião exclamava, brandindo a faca.<br />
— Varo seja Deus, seja o diabo.<br />
— Vocês não ignoram que o malvado do capitão tem maus fins com aquela<br />
gente; vamos, pois, acabar com isso. Se vocês ajudarem-me, ele não leva o bocado<br />
à boca; <strong>ou</strong> eu não s<strong>ou</strong> eu.<br />
— E o que havemos <strong>de</strong> fazer? Pergunt<strong>ou</strong> Viana.<br />
— Escutem: o Chico já há <strong>de</strong> ter percebido que nós gostamos das filhas;<br />
vamos lá hoje; eu peço a Chiquinha e vocês, se h<strong>ou</strong>ver vaza, falam logo a ele <strong>de</strong><br />
estucha.<br />
— Mas nós não nos po<strong>de</strong>mos casar já, resmungaram Manuel João e Viana.<br />
— E quem foi que disse que vocês casassem? Dizer não é fazer. Eu<br />
também agora não tenho jeito; mas é um modo <strong>de</strong> atrapalhar o capitão. Cada um<br />
puxa a brasa para sua sardinha.<br />
— Assim vá lá, disse Viana.<br />
— Pois, eu assim não quero: não hei <strong>de</strong> enganar a moça; tudo menos isso,<br />
interveio energicamente o feitor.<br />
— Assim mesmo pedaço <strong>de</strong> tolo, não queiras; o Manuel João tem boa boca,<br />
seu Viana; os <strong>ou</strong>tros comem a carne e ele rói os ossos.<br />
— Por Nossa Senhora das Dores, vocês estão zombando. Eu arranco a<br />
língua àquele cachorro, se ele se atrever; vá ele para as profundas do inferno.<br />
Escoro-o no caminho e mando-o <strong>de</strong>sta para a melhor. E sabe o que mais, o que<br />
você quiser que eu faça é só dizer.<br />
— Está dito; está fechado; a ofensa <strong>de</strong> um é a ofensa <strong>de</strong> todos: juremos!<br />
— Juramos!<br />
Ao anoitecer estavam os três na casa <strong>de</strong> Francisco Benedito, que já dava<br />
freqüentes risadas, graças à chegada do seu filho, e <strong>de</strong> umas garrafas que ele<br />
tr<strong>ou</strong>xera <strong>de</strong> parte do Sebastião.<br />
Os visitantes foram recebidos somente pelo velho e sua mulher, porque as<br />
meninas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> manhã estavam na casa do compadre.<br />
Depois das primeiras conversas, Sebastião Pereira disse ao velho que vinha<br />
a uma c<strong>ou</strong>sa <strong>de</strong> interesse acerca da qual queria falar-lhe, sendo <strong>ou</strong>vido somente<br />
pelos dois amigos.<br />
— Pois venha <strong>de</strong> lá este gole; disse o velho que tinha nas mãos uma<br />
caneca; molhe-se a palavra primeiro.<br />
Sebastião começ<strong>ou</strong> por fazer ver que tinha o seu pedacinho <strong>de</strong> terra, que<br />
era bom falquejador, remador e trabalhador <strong>de</strong> enxada. Nunca tinha passado<br />
misérias e ao contrário quando metia a mão no bolso tinha sempre seu vintém. Se<br />
não era rico, também não lhe faltava a graça <strong>de</strong> Deus, e a moça que se casasse<br />
com ele não ficaria <strong>de</strong> mau partido.<br />
27