Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
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— Mas o que hei <strong>de</strong> eu fazer para evitar.<br />
www.nead.unama.br<br />
H<strong>ou</strong>ve um momento <strong>de</strong> silêncio, quebrado <strong>de</strong>pois por Seberg, que, fuzilando<br />
nos olhos as flamívoma agonias do remorso, segred<strong>ou</strong> a <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>, cujas<br />
mãos segurava fortemente:<br />
— Suicidar-se! Eu con<strong>de</strong>nei-o à morte; venho agora ensinar-lhe o meio <strong>de</strong><br />
efetuar por si mesmo a sentença. Mate-se, mate-se; não consinta que os seus<br />
inimigos, que chegaram a iludir até os seus melhores amigos, triunfem nesta causa<br />
iníqua.<br />
<strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> fic<strong>ou</strong> só, perplexo, a recordar o conselho <strong>de</strong> Seberg.<br />
Olh<strong>ou</strong> em torno <strong>de</strong> si; não havia uma arma, um meio <strong>de</strong> realizar o suicídio;<br />
nem ao menos podia enforcar-se porque as sentinelas à vista passeavam <strong>de</strong><br />
continuo diante da gra<strong>de</strong> e vinham freqüentemente espiá-lo.<br />
Da pare<strong>de</strong> da enxovia como um pungente escárnio ao luxo pendia um<br />
pedaço <strong>de</strong> espelho. O fazen<strong>de</strong>iro caminh<strong>ou</strong> até ele, e recu<strong>ou</strong> espavorido gritando<br />
angustiosamente:<br />
— Meu Deus, meu Deus; é horrível esperar assim pela morte!<br />
Voltando <strong>de</strong>pois ao mesmo lugar agarr<strong>ou</strong> do pedaço <strong>de</strong> espelho, crav<strong>ou</strong>-o<br />
no pulso e rasg<strong>ou</strong> um profundo e amplo golpe.<br />
Foi porém surpreendido e impedido <strong>de</strong> terminar o seu intento.<br />
A noite veio em seguida adiar por algumas horas o eterno <strong>de</strong>scanso da<br />
vítima. Dir-se-ia que o tempo colaborava na obra atrocíssima da socieda<strong>de</strong>.<br />
Durante toda a noite <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> repetiu sempre ao sacerdote do<br />
Crucificado:<br />
— V<strong>ou</strong> morrer inocente!<br />
Mas o ministro da religião do Mártir imolado às iras farisaicas não cria na<br />
pureza da vitima, e insistia em pedir-lhe a verda<strong>de</strong> em nome da con<strong>de</strong>nação eterna.<br />
Só no dia seguinte, quando o préstito entrava no templo, quando a alva do<br />
con<strong>de</strong>nado infamava um nobre caráter, abriram-se os olhos do sacerdote.<br />
É que neste momento um <strong>de</strong>sconhecido tent<strong>ou</strong> revelar um segredo relativo<br />
ao pa<strong>de</strong>cente; e no mesmo instante um olhar <strong>de</strong>ste impediu a revelação.<br />
Ninguém sabia quem era este homem; diziam apenas que era um cavaleiro<br />
que tinha vindo das bandas <strong>de</strong> Campos.<br />
De feito, o <strong>de</strong>sconhecido tinha chegado <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>, e, se tivesse podido<br />
falar, <strong>ou</strong>vir-se-ia um filho <strong>de</strong>nunciar à sua mãe como involuntária mandante do<br />
bárbaro assassinato.<br />
Mas a gran<strong>de</strong>za d'alma do esposo fez malograr o ato <strong>de</strong> heroísmo, e daí<br />
p<strong>ou</strong>co um negro instrumento da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>safrontava-a, assassinando<br />
juridicamente a Manuel da <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>.<br />
Nesta hora os sacerdotes campistas levantavam as Hóstias consagradas,<br />
oferecendo ao seu Deus o incruento sacrifício em favor da alma do con<strong>de</strong>nado.<br />
E as Hóstias erguidas no espaço, enquanto pendia do baraço o cadáver do<br />
justiçado, traziam ao pensamento daqueles que tinham certeza da inocência da<br />
vítima um quadro <strong>de</strong> consolação infinita.<br />
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