Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
www.nead.unama.br<br />
— Oh! Santo Deus, ten<strong>de</strong> pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>stas crianças que não fizeram mal a<br />
ninguém, exclam<strong>ou</strong> o Dr.<br />
É fácil imaginar-se a tristeza <strong>de</strong>sse quadro, e a dificulda<strong>de</strong> do Dr. em conter<br />
a alucinação da enferma. Afinal triunf<strong>ou</strong> a pieda<strong>de</strong> do amigo e a Sra.<br />
D. Maria foi recolhida ao seu quarto em que jazeu sobre o leito durante<br />
muitos meses.<br />
O coletor, presa <strong>de</strong> igual <strong>de</strong>svario, tinha montado a cavalo e galopava pela<br />
estrada que se dirigia a Macaé.<br />
Já havia chegado para <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> o <strong>de</strong>clinar repentino da vida, e talvez<br />
na mesma hora em que a sua família era vítima <strong>de</strong> tanto martírio, ele punha pé na<br />
cida<strong>de</strong> que se regozijava com a sua con<strong>de</strong>nação.<br />
Foi esperado por um amigo, que, sem afrontar claramente a animosida<strong>de</strong>,<br />
que lhe resultaria das manifestações amistosas para com o sentenciado, todavia não<br />
evitava-a a ponto <strong>de</strong> sacrificar os <strong>de</strong>veres da amiza<strong>de</strong>.<br />
Seberg tinha pago caro a facilida<strong>de</strong> com que, homem <strong>de</strong> boa fé, <strong>de</strong>ra<br />
<strong>ou</strong>vidos à infamante acusação feita ao fazen<strong>de</strong>iro.<br />
A leitura da carta, que o Sr. Martins mostr<strong>ou</strong> na primeira sessão do júri ao<br />
seu impertinente contendor, a cena da prisão, cujo fim só mais tar<strong>de</strong> veio a saber, a<br />
resignação evangélica <strong>de</strong> <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>, tudo, enfim, provava-lhe que tinha<br />
con<strong>de</strong>nado à morte um inocente, e o seu caráter profundamente ferido exigia-lhe a<br />
mais inteira <strong>de</strong>dicação ao sentenciado.<br />
Argüía-se diante dê todos os seus amigos; e trucidava continuamente a<br />
própria consciência, conservando-se ao lado <strong>de</strong> <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>, <strong>ou</strong>vindo-lhe os<br />
soluços, e vendo o crescimento gradativo do seu <strong>de</strong>sespero à medida que se<br />
aproximava o dia da execução.<br />
Na véspera do <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro dia da existência do fazen<strong>de</strong>iro, Seberg ao sair da<br />
ca<strong>de</strong>ia encontr<strong>ou</strong>-se com uma das autorida<strong>de</strong>s macaenses, notoriamente infensas<br />
ao que ia morrer.<br />
— Amanhã efetuar-se-á a <strong>de</strong>morada execução dos assassinos, <strong>ou</strong> haverá<br />
ainda adiamento? Pergunt<strong>ou</strong> o famoso inimigo.<br />
— Creio que será amanhã mesmo, respon<strong>de</strong>u Seberg tristemente.<br />
— O seu voto contra aquele malvado, Sr. Seberg, é uma das maiores provas<br />
da fortaleza do seu caráter.<br />
— Penso justamente ao contrário; creio que é a maior prova <strong>de</strong> fraqueza e<br />
cegueira que tenho dado em minha vida.<br />
— Bonda<strong>de</strong> sua, Sr. Seberg; era impossível que semelhante celerado não<br />
acabasse às mãos do carrasco. Felizmente nem o diabo o po<strong>de</strong>rá salvar agora.<br />
Seberg não respon<strong>de</strong>u, caminh<strong>ou</strong> direito à sua casa, e volt<strong>ou</strong> logo à ca<strong>de</strong>ia.<br />
Não po<strong>de</strong>, porém, falar ao amigo, que recebia do sacerdote as consolações<br />
da religião.<br />
Esper<strong>ou</strong>, passeando maquinalmente <strong>de</strong> um para <strong>ou</strong>tro lado do corredor da<br />
ca<strong>de</strong>ia.<br />
Quando o sacerdote retir<strong>ou</strong>-se, Seberg aproxim<strong>ou</strong>-se da gra<strong>de</strong> e disse para<br />
a vítima que soluçava:<br />
— Meu amigo, não se submeta à injustiça dos homens e à malva<strong>de</strong>za da lei,<br />
não se submeta.<br />
199