Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
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— É impossível, dizia ele alta noite, passeando <strong>de</strong> um lado para <strong>ou</strong>tro da<br />
sala <strong>de</strong> jantar da casa em que morava; é impossível; se h<strong>ou</strong>vesse a isenção <strong>de</strong><br />
ânimo exigida pela lei não ter-se-ia dado semelhante escândalo. Meu Deus, meu<br />
Deus, fazei com que se eluci<strong>de</strong> a verda<strong>de</strong>.<br />
Mais tar<strong>de</strong> acrescent<strong>ou</strong> ainda:<br />
— Oh como fui cruel, meu Deus! Aqueles infelizes são inocentes.<br />
No dia seguinte, pela manhã, Seberg saiu para <strong>de</strong>spedir-se <strong>de</strong> <strong>Motta</strong><br />
<strong>Coqueiro</strong> que <strong>de</strong>via partir para a corte.<br />
Com gran<strong>de</strong> admiração <strong>de</strong> todos foi ele visto na praia, meditativo e com os<br />
olhos rasos <strong>de</strong> lágrimas, acompanhando o bote, em que <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> e seu<br />
escravo se dirigiam para bordo do vapor ancorado ao longe.<br />
— É um homem incompreensível este Sr. Seberg, diziam, con<strong>de</strong>n<strong>ou</strong> <strong>Motta</strong><br />
<strong>Coqueiro</strong>, e no entanto chora agora talvez ter tido coragem <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r assim.<br />
Quando o bote sumiu-se; quando já não podia acompanhar com a vista o<br />
infeliz con<strong>de</strong>nado, Seberg seguindo vagarosamente pela pitoresca rua <strong>de</strong> Macaé,<br />
que <strong>de</strong>scerra as janelas da sua casaria olhando para a vastidão do mar; entr<strong>ou</strong><br />
finalmente numa farmácia e pergunt<strong>ou</strong> pelo seu proprietário.<br />
Um homem <strong>de</strong> atraentes feições, agradável timbre <strong>de</strong> voz; saiu <strong>de</strong> um<br />
gabinete lateral e esten<strong>de</strong>ndo a mão a Seberg disse-lhe jovialmente.<br />
— Por Deus, Sr. Seberg; tanta cerimônia fez-me pensar que procurava-me<br />
um <strong>de</strong>sconhecido.<br />
— Não me admiro que assim pensasse, respon<strong>de</strong>u Seberg, eu s<strong>ou</strong> o<br />
primeiro a <strong>de</strong>sconhecer-me. Preciso falar-lhe muito a sós.<br />
O Sr. Apolinário Pacheco, substituto <strong>de</strong> juiz municipal <strong>de</strong> Macaé, e que era a<br />
pessoa que falava a Seberg, apont<strong>ou</strong> para o gabinete.<br />
— Aqui po<strong>de</strong>mos estar à vonta<strong>de</strong>; o meu caixeiro tem a particularida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
não <strong>ou</strong>vir o que eu quero que ele não <strong>ou</strong>ça, e além disso ficamos retirados.<br />
Sentaram-se um em frente do <strong>ou</strong>tro tendo <strong>de</strong> permeio uma pequena mesa<br />
redonda, e Seberg, apoiando sobre a mesa os cotovelos, movimento que foi logo<br />
seguido pelo Sr. Apolinário, disse com solene gravida<strong>de</strong>.<br />
— Venho confiar à sua honra a solução <strong>de</strong> uma séria questão <strong>de</strong><br />
consciência, para a qual invoco também os seus serviços <strong>de</strong> magistrado.<br />
— Oh! Sr. Seberg, po<strong>de</strong> contar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já com a minha <strong>de</strong>dicação, e <strong>ou</strong>so<br />
prometê-la porque sei com quem falo.<br />
— Ontem, como sabe, foi o julgamento <strong>de</strong> <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> e do preto<br />
Domingos, e eu fiz parte do conselho que os con<strong>de</strong>n<strong>ou</strong>.<br />
— Pobre homem! Fui eu quem sustent<strong>ou</strong> a sua pronúncia e entretanto faço<br />
hoje a seu respeito juízo bem diverso do que então fazia.<br />
— Queira <strong>ou</strong>vir-me, e reflita sobre o que v<strong>ou</strong> contar-lhe. Ontem <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
recolhido o conselho <strong>de</strong> jurados à sala secreta e efetuada a votação dos quesitos<br />
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