Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
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Para acelerar o trabalho era necessário que ele estivesse presente ao<br />
serviço dos escravos e empregados. Isto obrigava-o a <strong>de</strong>morar-se no sítio e a sua<br />
esposa, para não constrangê-lo a ir visitá-la a Campos, resolveu acompanhá-lo.<br />
Entre a família do agregado e a do proprietário travaram-se logo relações e<br />
<strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> foi na primeira oportunida<strong>de</strong> escolhido para batizar o caçula <strong>de</strong><br />
Francisco Benedito.<br />
Cumpre, entretanto, notar que a senhora <strong>de</strong> <strong>Coqueiro</strong> manteve sempre uma<br />
certa reserva para com o compadre, que não obstante ser bom homem, muito<br />
respeitador e trabalhador, tinha o vício da bebida.<br />
Entre os vadios que passavam as semanas assentados ao balcão da venda<br />
próxima, tocando viola e <strong>de</strong>sfiando a vida alheia, o compadre assentava-se as<br />
vezes, e para matar o tempo e cortar o calor esvaziava tantos copinhos <strong>de</strong><br />
aguar<strong>de</strong>nte, que o resultado era voltar para casa <strong>de</strong>screvendo ziguezagues.<br />
Demais tinha relações com pessoas, que eram inimigos confessos <strong>de</strong> <strong>Motta</strong><br />
<strong>Coqueiro</strong>, e que, segundo era fama, só não lhe bebiam o sangue porque não<br />
podiam.<br />
Era <strong>de</strong>ste número o André inspetor, e o sub<strong>de</strong>legado Oliveira, que se<br />
malquistaram com o compadre <strong>de</strong> Francisco Benedito <strong>de</strong>s<strong>de</strong> umas eleições que ele<br />
venceu em Carapebus.<br />
Salvo esta queixa, reinava a mais inteira cordialida<strong>de</strong> entre as famílias.<br />
As filhas e mulher do agregado freqüentavam a casa gran<strong>de</strong> e nunca saíam<br />
<strong>de</strong> lá sem que a senhora pedisse os lenços das pequeninas para amarrar uma<br />
tr<strong>ou</strong>xinha.<br />
Por seu turno estas <strong>de</strong> vez em quando traziam uma cestinha cheia <strong>de</strong> ovos e<br />
acercando-se da dona da casa, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> lhe beijarem a mão, diziam-lhe:<br />
— Eu tr<strong>ou</strong>xe isto para a senhora.<br />
A resposta era sempre, à chegada das canoas da cida<strong>de</strong>, um embrulho <strong>de</strong><br />
cassa <strong>ou</strong> chita, <strong>ou</strong> uns lenços novos, enviados pela esposa <strong>de</strong> <strong>Coqueiro</strong> à casa <strong>de</strong><br />
Francisco Benedito.<br />
Se a consorte <strong>de</strong> <strong>Coqueiro</strong> assim tratava a família do seu hóspe<strong>de</strong>, aquele<br />
por sua vez teve diversas ocasiões <strong>de</strong> carregar as suas sobrancelhas salientes, e<br />
tomar um tom <strong>de</strong> voz enérgico para respon<strong>de</strong>r aos que falavam do seu compadre:<br />
— O que eu sei é que tirado o <strong>de</strong>feito da bebida, é muito trabalhador e a sua<br />
família é boa gente.<br />
Todas as tar<strong>de</strong>s ao voltar da roça <strong>ou</strong> da <strong>de</strong>rrubada, <strong>Coqueiro</strong> parava junto<br />
da casa <strong>de</strong> Francisco Benedito, e ali esperava muitas vezes até a noite, mandando<br />
ao moleque, seu pajem, <strong>de</strong>sencilhar o cavalo, porque só iria mais tar<strong>de</strong>.<br />
Havia três indivíduos a quem tamanha familiarida<strong>de</strong> incomodava. Eram eles<br />
Manuel João, um mulatinho <strong>de</strong> vinte e p<strong>ou</strong>cos anos, bem apessoado e falante, —<br />
um pernóstico, segundo o Viana da venda; o Sebastião Pereira, robusto rapaz que<br />
morava perto das terras <strong>de</strong> <strong>Coqueiro</strong>, e muito conhecido pela perícia em tocar viola<br />
e cantar o <strong>de</strong>safio; e o Viana da venda já meio maduro — como dizia o André<br />
inspetor, e creio mesmo que ligado por laços matrimoniais.<br />
Cada um <strong>de</strong>sses três indivíduos suspirava muito em segredo por uma das<br />
morenas do Chico Benedito — por pena das pobres raparigas.<br />
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