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Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Então o <strong>de</strong>sgraçado, com os cabelos arrepelados e o olhar flamejante,<br />

media silencioso o estreito recinto da prisão, e só parava quando, extenuado, caía<br />

sobre o leito afogado em soluços e em lágrimas.<br />

Vejam como o remorso tortura aquele malvado, dizia o carcereiro ao vê-lo<br />

baqueado nessa dor profunda. Afinal <strong>de</strong> contas não lhe valeu ter dinheiro; não se<br />

pô<strong>de</strong> livrar da forca, nem pô<strong>de</strong> fazer calar a consciência.<br />

E os que faziam na prisão a aprendizagem da dureza do coração e do<br />

cinismo riam <strong>de</strong>safogadamente escárnios pungentes à santida<strong>de</strong> daquele<br />

sofrimento.<br />

Fora da prisão reinava a inexorabilida<strong>de</strong>, e mais ainda a torpeza. Uma das<br />

influências <strong>de</strong> Macaé, muito empenhada em ver perdido irremediavelmente o<br />

<strong>de</strong>sventurado réu, planej<strong>ou</strong> uma cena, cujo efeito <strong>de</strong>monstraria ainda aos mais<br />

aferrados <strong>de</strong>fensores a culpabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>.<br />

Restava da família <strong>de</strong> Francisco Benedito uma única filha, a qual diziam ser<br />

casada com uma das testemunhas do processo, Sebastião Correia Batista,<br />

conhecido em Macabu por Sebastião Pereira.<br />

A solícita influência resolveu mandar vir para Macaé a moça, cuja presença<br />

confundiria infalivelmente o malvado, que persistia em mostrar-se aparentemente<br />

tão sereno, que muitos já o consi<strong>de</strong>ravam vítima.<br />

Aproximando-se a segunda sessão do júri a que <strong>de</strong>viam respon<strong>de</strong>r os réus<br />

mais odiados que têm aparecido em tribunais brasileiros, a zelosa influência<br />

apress<strong>ou</strong>-se em realizar os seus <strong>de</strong>sejos.<br />

Cheg<strong>ou</strong> enfim o dia da sessão, e os réus compareceram para ainda uma vez<br />

afrontar a odiosida<strong>de</strong> popular, a retórica da promotoria, e a sensibilida<strong>de</strong> dos<br />

jurados,<br />

Os espectadores, alegres por não verem na tribuna da <strong>de</strong>fesa o advogado<br />

que na primeira sessão tinha-os ameaçado com um profundíssimo <strong>de</strong>speito<br />

manifestaram francamente os sentimentos contra <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> em um passageiro<br />

inci<strong>de</strong>nte.<br />

Os julgamentos do fazen<strong>de</strong>iro e do escravo Domingos foram separados do<br />

julgamento dos <strong>ou</strong>tros dois réus.<br />

— Faze lá o que quiseres, matreiro, sorriam os <strong>de</strong>salmados; já não há quem,<br />

possa tirar-te a corda do pescoço; estás ai, e estás a dançar sob as unhas do<br />

carrasco.<br />

— O diabo é que ele assim <strong>de</strong>mora a confirmação da sentença dos <strong>ou</strong>tros.<br />

Eu se fosse juiz não consentia que se rompesse a cambulhada; mataram juntos,<br />

<strong>de</strong>viam ser con<strong>de</strong>nados juntos.<br />

Quando começ<strong>ou</strong> o interrogatório <strong>de</strong> <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>, h<strong>ou</strong>ve um gran<strong>de</strong><br />

sussurro, que não ce<strong>de</strong>u nem ao toque da campainha presi<strong>de</strong>ncial.<br />

— Está aí embaixo; eu est<strong>ou</strong> vendo daqui; <strong>de</strong>ve ser ela.<br />

Diversos espectadores mais sôfregos levantaram-se apressadamente<br />

dirigindo-se à escada, e <strong>ou</strong>tros <strong>de</strong>bruçaram-se às janelas do edifício, prolongando<br />

assim o sussurro.<br />

— Ora, bem parecia-me que não era, exclam<strong>ou</strong>-se afinal; a filha do pobre<br />

assassinado não tem meios para vir aqui.<br />

— Por isso não, porque o Dr..... mand<strong>ou</strong>-a buscar.<br />

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