12.04.2013 Views

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

www.nead.unama.br<br />

— Não importa; Deus <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-me-á. A<strong>de</strong>us: entrego-lhes minha filha.<br />

E volt<strong>ou</strong> resolutamente para a célula, on<strong>de</strong> não era já encarcerado pela<br />

vigilância dos agentes policiais mas pela sua própria dignida<strong>de</strong>.<br />

Às cinco horas da manhã do dia vinte e quatro <strong>de</strong> <strong>ou</strong>tubro <strong>de</strong> 1852 <strong>de</strong>sceu<br />

algemado a escada da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Campos a amaldiçoada vítima da levianda<strong>de</strong><br />

pública.<br />

À porta agrupava-se a multidão e alinhava-se uma companhia da força<br />

policial, que <strong>de</strong>via acompanhar o famoso réu até a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Macaé, termo em que<br />

foi perpetrado o crime.<br />

A atitu<strong>de</strong> humil<strong>de</strong> do fazen<strong>de</strong>iro tinha o sainete da dignida<strong>de</strong> inalterável das<br />

consciências limpas, e o seu passo, embora tardo, cobrava firmeza à esperança <strong>de</strong><br />

pronta justificação. Vá esperança que nem ao menos <strong>de</strong>mor<strong>ou</strong> seus enganos<br />

lisonjeiros!<br />

Alguns dias <strong>de</strong>pois da sua chegada a Macaé, cuja população recebeu-o com<br />

as mais hostis e ruidosas manifestações, aumentadas <strong>de</strong> odiosida<strong>de</strong> dia por dia,<br />

graças aos libelos dos homens <strong>de</strong> influência, e muito particularmente do Dr. Velho<br />

da Silva, por esse tempo <strong>de</strong>legado <strong>de</strong> polícia e juiz municipal, <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> foi<br />

mandado para Macabu a fim <strong>de</strong> ser interrogado.<br />

O seu eloqüente advogado, o Dr. Fonseca, tom<strong>ou</strong>-se <strong>de</strong> tanto receio pela<br />

sorte do fazen<strong>de</strong>iro que exigiu sérias providências para que fosse respeitada a vida<br />

do infeliz.<br />

É que as trevas do futuro escondiam o lôbrego aspecto do patíbulo; ao<br />

contrário talvez aquele honrado caráter cerrasse os <strong>ou</strong>vidos e os olhos aos sinistros<br />

planos, que suspeitava tramados.<br />

A <strong>de</strong>silusão <strong>de</strong> <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> foi atroz ao chegar ao lugar, on<strong>de</strong> <strong>ou</strong>trora<br />

tinha sido, senão respeitado, pelo menos temido.<br />

Os inquéritos tinham sido começados e a mais baixa gente, a escória<br />

popular, fora chamada <strong>de</strong> preferência.<br />

Vinham <strong>de</strong>por testemunhas dos lugares mais afastados <strong>de</strong> Macabu e<br />

homens que eram notoriamente conhecidos como inimigos dos réus.<br />

Os nomes das testemunhas sós bastaram para <strong>de</strong>spersuadi-lo da<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> justificação.<br />

Os <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong>viam ser tomados a Balbina, Sebastião Corrêa Batista.<br />

mais conhecido por Sebastião Pereira, o Viana da venda, Lúcio Francisco José<br />

Ribeiro, Manuel João <strong>de</strong> S<strong>ou</strong>za Moço, Joaquim José Licério, Amaro Antônio Batista,<br />

José Pinto Neto, José Antônio do Rosário, Joaquim José da Costa, Carolina,<br />

Fernando, Tereza e José <strong>de</strong> S<strong>ou</strong>za Marins, alcunhado o Botão, único que não se<br />

quis prestar a <strong>de</strong>por sobre o que não sabia.<br />

Compareciam também às audiências os réus presos Faustino Pereira da<br />

Silva, Florentino Silva, Domingos e Bento Pereira da Silva, que troc<strong>ou</strong> <strong>de</strong>pois o<br />

banco <strong>de</strong> acusado pela ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> testemunha!<br />

Comentando este fato diziam os amigos <strong>de</strong> <strong>Coqueiro</strong>, não sem razão:<br />

— Parece que a autorida<strong>de</strong> policial coloc<strong>ou</strong> os seus policiados nesta posição<br />

diante <strong>de</strong> <strong>Coqueiro</strong>: con<strong>de</strong>nai <strong>ou</strong> sereis con<strong>de</strong>nados.<br />

Balbina jur<strong>ou</strong> que sabia que o seu senhor tinha mandado matar a família <strong>de</strong><br />

Francisco Benedito pelos seus parceiros Fidélis, Alexandre, Carlos e Domingos, e<br />

sabia porque tinha <strong>ou</strong>vido ao fazen<strong>de</strong>iro perguntar no corredor aos escravos se<br />

tinham morto a todos. A morte foi feita em um domingo, e o senhor chegara ao sítio<br />

178

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!