Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
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www.nead.unama.br<br />
— "Faça pren<strong>de</strong>r Manoel da <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>, alto, magro, corado, <strong>de</strong><br />
sobrancelhas salientes e espessas, com uma gran<strong>de</strong> mancha no rosto, casado, <strong>de</strong><br />
50 anos, e assim os escravos, que o acompanharem."<br />
— E que tem este pobre homem <strong>de</strong> comum com o malvado, que querem<br />
pren<strong>de</strong>r? Pois não se está vendo que um homem como este. era incapaz <strong>de</strong> matar<br />
uma mosca! Exclam<strong>ou</strong> a esposa.<br />
— Eles disfarçam muito, os celerados!<br />
— E mesmo que fosse, aqui <strong>de</strong>ntro é nosso hóspe<strong>de</strong>.<br />
— E eu s<strong>ou</strong> sempre inspetor, aqui <strong>de</strong>ntro, <strong>ou</strong> fora daqui. V<strong>ou</strong> confrontar.<br />
O inspetor post<strong>ou</strong>-se diante <strong>de</strong> <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>, que sentado à mesa da sala<br />
<strong>de</strong> jantar ceava tranqüilamente.<br />
— Não me parece; mas é ele mesmo, está se vendo; vamos conversá-lo.<br />
Depois da ceia, <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> conserv<strong>ou</strong>-se sentado, e segundo os estilos<br />
pergunt<strong>ou</strong> pelo número <strong>de</strong> membros da família <strong>de</strong> seu agasalhador e seus negócios.<br />
Entabulada a conversação, o inspetor, afetando a mais sincera familiarida<strong>de</strong><br />
pergunt<strong>ou</strong> ao hóspe<strong>de</strong>:<br />
— O Sr. vem <strong>de</strong> Campos?<br />
— Estive lá, mas venho do sertão <strong>de</strong> Santa Rita.<br />
— E quando pass<strong>ou</strong> por Campos não <strong>ou</strong>viu falar do <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>.<br />
0 fazen<strong>de</strong>iro, sem pestanejos sequer, respon<strong>de</strong>u com firmeza.<br />
— Ouvi.<br />
— Que malvado, hein? Uma família inteira, velhos e crianças, e até a própria<br />
casa, tudo <strong>de</strong>struiu. Nem enforcado oito vezes paga o crime que cometeu.<br />
— Talvez se o senhor o conhecesse não dissesse o mesmo. Eu não acredito<br />
que <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> tivesse alma para semelhante horror. É um homem sério o<br />
<strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>, que eu conheço.<br />
— Quanto à certeza do crime, já não há dúvida: os próprios escravos e os<br />
dois homens que ele pag<strong>ou</strong> para o mesmo fim confessaram o crime.<br />
— Os dois homens que ele pag<strong>ou</strong>, acudiu <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> comovido; mas<br />
quem é que espalha isto, santo Deus?<br />
— Oh! O senhor conhece bem o assassino; mostra-se tão penalizado!<br />
— Sim, fomos amigos. Tenho até bem gravado na memória um sinal pelo<br />
qual é fácil conhecê-lo.<br />
— Eu também sei: uma gran<strong>de</strong> mancha no rosto.<br />
— Exatamente, e <strong>de</strong>ste lado.<br />
O incauto fazen<strong>de</strong>iro afast<strong>ou</strong> o lenço e <strong>de</strong>ix<strong>ou</strong> ver o maldito sinal, que o dava<br />
conhecer.<br />
— Está preso! Grit<strong>ou</strong> o inspetor.<br />
— Por quê? Perpetrei algum crime? Pergunt<strong>ou</strong> o hóspe<strong>de</strong> perturbado.<br />
— Os tribunais dirão. Está preso por que o senhor é o <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>; não<br />
po<strong>de</strong> negá-lo, e foi o senhor mesmo quem acab<strong>ou</strong> <strong>de</strong> mostrar a mancha que Deus<br />
pôs-lhe no rosto para que seja conhecido em toda a parte. Está preso.<br />
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