12.04.2013 Views

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

www.nead.unama.br<br />

à matança, apareceu uma infeliz filha <strong>de</strong> Francisco Benedito, rota e faminta, ainda<br />

mais, digna <strong>de</strong> compaixão pelos seus p<strong>ou</strong>cos anos.<br />

Pobre menina! Dizia-se, estremece ao <strong>ou</strong>vir o nome do fazen<strong>de</strong>iro, e<br />

perguntada por que tinha tanto medo <strong>de</strong>sse nome, respon<strong>de</strong>u:<br />

— Estávamos eu e minha irmã escondidas em uma árvore; eu que era mais<br />

velha subi até as grimpas e minha irmã fic<strong>ou</strong> oculta no oco da árvore. Em casa<br />

choravam e gritavam meus pais e meus irmãos, mas a p<strong>ou</strong>co e p<strong>ou</strong>co todos<br />

calaram-se.<br />

Apareceu então cá fora o <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>, alumiado por um escravo seu que<br />

trazia um facho. Procur<strong>ou</strong> em roda da casa e <strong>de</strong>pois cheg<strong>ou</strong>-se à árvore, on<strong>de</strong> viu<br />

os cabelos <strong>de</strong> minha irmã, pelos quais tir<strong>ou</strong>-a do escon<strong>de</strong>rijo.<br />

— Mata este <strong>de</strong>moninho, disse ele ao preto.<br />

— Senhor, é muito pequena, tenha pena <strong>de</strong>la.<br />

— Covar<strong>de</strong>, tu me pagarás; exclam<strong>ou</strong> o fazen<strong>de</strong>iro, e segurando com a mão<br />

esquerda a perna <strong>de</strong> minha irmã, com a direita armada <strong>de</strong> um facão, partiu-a pelo<br />

meio e <strong>de</strong>pois fê-la em postas.<br />

— Falta-me ainda uma, disse <strong>de</strong>pois.<br />

Eu tremia, continuava a criança, mas felizmente ele não lembr<strong>ou</strong>-se <strong>de</strong> subir<br />

à árvore."<br />

E a crédula população bradava indignada:<br />

— É a um malvado <strong>de</strong>stes que querem livrar. Miséria da nossa terra; muito<br />

po<strong>de</strong> o dinheiro! Mas se o júri absolver, o povo far-se-á carrasco.<br />

Enquanto assim era julgado, extenuado pelas continuadas jornadas, <strong>Motta</strong><br />

<strong>Coqueiro</strong> arrastava-se pelas matas, para fugir à injusta posição.<br />

Se<strong>de</strong>nto, meditava primeiro e espreitava minuciosamente para chegar-se a<br />

algum ribeiro, que murmurando <strong>de</strong>scia pelas grotas, brotando em sons tristes como<br />

um soluço.<br />

Um mês <strong>de</strong>pois da sua saída da cida<strong>de</strong> sentiu que as forças abandonavamno<br />

e lembrando-se da família, dos filhos inocentes que ficariam ao <strong>de</strong>samparo e<br />

infamados, caminh<strong>ou</strong> para uma casa que alvejava ao longe, e aí pediu agasalho.<br />

Receberam-no com a <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za hospitaleira inata no sertanejo brasileiro,<br />

mas gradativamente foi diminuindo a prazenteria da família.<br />

É que havia chegado o dono da casa, e antes só ali estavam mulheres.<br />

Francisco José Dinis, chefe da família, que hospedara o foragido, era<br />

inspetor <strong>de</strong> quarteirão, e embora o seu tino policial não tivesse finura especial, a sua<br />

perspicácia estimulava-se com a lembrança dos prêmios no valor <strong>de</strong> dois contos <strong>de</strong><br />

réis, oferecidos pelo chefe <strong>de</strong> polícia da província e a <strong>de</strong>legacia <strong>de</strong> Campos.<br />

Ao ver aquele homem vestido <strong>de</strong> preto, com um lenço atado ao queixo, e<br />

uma fisionomia em que a <strong>de</strong>sventura sulcara rugas in<strong>de</strong>léveis, o Sr. Dinis lembr<strong>ou</strong>se<br />

do criminoso, cuja captura era esperada com ansieda<strong>de</strong> geral.<br />

Deixando só o hóspe<strong>de</strong>, foi procurar um ofício que lhe tinha sido dirigido pela<br />

<strong>de</strong>legacia, e chamando a sua mulher, leu-o para que ela <strong>ou</strong>visse:<br />

173

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!