Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
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www.nead.unama.br<br />
O homem, que vinha acompanhado por um preto, <strong>de</strong>sceu à margem do rio,<br />
embarc<strong>ou</strong>-se em uma canoa, que foi logo impelida pelas remadas do preto e em<br />
breve tempo ganh<strong>ou</strong> a margem oposta.<br />
Aí disse o homem ao preto:<br />
— Não hei <strong>de</strong> esquecer-me <strong>de</strong> ti; vai, Domingos, e não digas a ninguém para<br />
que lado segui. Diz ao meu enteado que alugue-te em qualquer casa.<br />
Por essas palavras e o tom <strong>de</strong> voz vê-se que o homem que atravess<strong>ou</strong> o rio<br />
era <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>.<br />
No <strong>ou</strong>tro dia pela manhã, a casa das Covas d'Areia foi franqueada à polícia;<br />
mas esta não encontr<strong>ou</strong> aí o criminoso procurado.<br />
Quando esta nova divulg<strong>ou</strong>-se, o povo, que se aglomerara para assistir à<br />
diligência, prorrompeu em acusações contra <strong>Coqueiro</strong>.<br />
Dizia-se geralmente:<br />
— Foi ele, e tanto assim que trat<strong>ou</strong> logo <strong>de</strong> fugir. Que monstro; <strong>de</strong>ve ser<br />
enforcado.<br />
CAPÍTULO XII<br />
A FERA DE MACABU<br />
O malogro da diligência, atribuído pela população a firme propósito da<br />
autorida<strong>de</strong> policial em <strong>de</strong>ixar impune o criminoso, entr<strong>ou</strong> logo em fatal contribuição<br />
contra <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>.<br />
O Cruzeiro e o Monitor Campista, folhas que dominavam a opinião <strong>de</strong><br />
Campos, o primeiro no intuito <strong>de</strong> triunfar na oposição pessoal ao <strong>de</strong>legado, o<br />
segundo emalhado na re<strong>de</strong> da animosida<strong>de</strong> pública, acirraram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo o seu<br />
estilo em <strong>de</strong>sabono do réu.<br />
No Cruzeiro, sob a rubrica <strong>de</strong> alto efeito: Caso horroroso; no Monitor, sob a<br />
três vezes mais comprometedora: A fera <strong>de</strong> Macabu, o submisso dicionário foi<br />
explorado pelos publicistas, impelidos pela se<strong>de</strong> vesânia <strong>de</strong> adjetivos, ora<br />
sentimentais como um livro <strong>de</strong> Lamartine e que eram consagrados em s aos<br />
assassinados, ora infamantes como um baraço e estes oferecidos, <strong>de</strong>dicados e<br />
consagrados a <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>.<br />
Hurras congratulatórios respondiam às notícias recebidas pelo correio <strong>de</strong><br />
quando sabia-se da prisão <strong>de</strong> algum escravo, <strong>ou</strong> <strong>de</strong> algum cúmplice da e em altos<br />
brados exigia-se a expedição <strong>de</strong> tropas para todos os pontos, a <strong>de</strong> que fosse<br />
prontamente capturado o bárbaro mandante, cujo procedimento atroz merecia<br />
punição tremenda, para ser <strong>de</strong>safrontada a civilização Campos, Macaé e Macabu!<br />
Não <strong>de</strong>mor<strong>ou</strong> muito que fossem presos Florentino Silva, Faustino Silva, e<br />
Domingos, mas o principal criminoso parecia zombar <strong>de</strong> todas as pesquisas. A<br />
polícia, cuidadosa em seguir-lhe ao encalço, chegava sempre <strong>de</strong>pois que ele estava<br />
distanciado.<br />
À medida que se <strong>de</strong>corriam os dias formava-se uma lenda tristíssima. Já não<br />
era só dizer-se que os cadáveres foram encontrados, segundo o Cruzeiro, já<br />
lacerados pelos cães e aves carnívoras; acrescentava-se que, tendo podido escapar<br />
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