Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
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www.nead.unama.br<br />
— P. S. — Leve consigo esta carta e <strong>ou</strong>tra em que tenha a minha<br />
assinatura; mostre-a e peça p<strong>ou</strong>so aos fazen<strong>de</strong>iros do município."<br />
— Então, pergunt<strong>ou</strong> o coletor; insistirá ainda em querer ficar?<br />
— Obe<strong>de</strong>ço, eu saio já. Abraça por mim os meus filhos e, quando sua mãe<br />
melhorar, diga-lhe que tudo foi remediado e que eu parti para Itabapoana a<br />
negócios. A<strong>de</strong>us, po<strong>de</strong>s abraçar-me sem escrúpulo; eu não intervim <strong>de</strong> forma<br />
alguma neste crime. Se eu não me pu<strong>de</strong>r justificar repete sempre estas palavras a<br />
meus filhos: teu pai era inocente.<br />
A resignação, que acentuava estas palavras, fez estremecer o <strong>ou</strong>vinte, que<br />
tent<strong>ou</strong> avivar a fortaleza do fazen<strong>de</strong>iro, visivelmente <strong>de</strong>pauperada, afiançando-lhe<br />
que não havia muito que temer.<br />
— Ah! Exclam<strong>ou</strong> <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>, que já havia dado alguns passos.<br />
Par<strong>ou</strong> e pediu ao coletor que lhe <strong>de</strong>sse papel. A lápis escreveu o fazen<strong>de</strong>iro<br />
estas linhas:<br />
"Uma palavra sua acerca do que or<strong>de</strong>n<strong>ou</strong> aos escravos é a minha sentença<br />
<strong>de</strong> morte, lavrada por meu próprio punho. Se alguém da nossa família <strong>de</strong>ve aparecer<br />
e sofrer, eu tenho forças. Peço à mãe <strong>de</strong> meus filhos que em nome <strong>de</strong>les p<strong>ou</strong>pe-se<br />
<strong>de</strong> ser mal julgada. A<strong>de</strong>us."<br />
— Entregue este bilhete a sua mãe, quando for oportuno; diga-lhe que o<br />
queime apenas lê-lo. Agora um último pedido: posso esperar que os meus filhos não<br />
ficam ao <strong>de</strong>samparo?<br />
As lágrimas e um abraço estreitado pelo coletor ao fazen<strong>de</strong>iro incumbiramse<br />
da resposta, e <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> saiu sem ter procurado encontrar-se com a família.<br />
Infelizmente não lhe foi dado eximir-se <strong>de</strong>ste tremendo golpe. Uma das suas<br />
filhas, para quem ainda não tinham <strong>de</strong>sabrochado todas as flores da meninice, saiu<br />
ao seu encontro, pedindo que lhe tr<strong>ou</strong>xesse uma lembrança do passeio.<br />
— Não posso, minha filha, soluç<strong>ou</strong> ele, misturando os beijos e as lágrimas<br />
nas faces da criança: os homens são tão maus para o teu papai que nem querem<br />
que ele possa trazer na volta brinquedos para vocês. Deus abençoe, e pergunte aos<br />
meus inimigos, se quem tem filhos da tua ida<strong>de</strong>, teria coragem para mandar matar<br />
crianças!<br />
A menina pôs-se a chorar o pranto espontâneo da criança, ao passo que seu<br />
pai afastava-se quase correndo.<br />
Um quarto <strong>de</strong> hora <strong>de</strong>pois a chácara era estreitamente cercada, mas as<br />
portas não foram abertas, porque já era noite, e além disso o <strong>de</strong>legado não tinha<br />
exigido.<br />
O relógio da igreja da Misericórdia batia onze horas da noite, quando um<br />
homem, vestido <strong>de</strong> preto, com a cabeça coberta com um largo chapéu-do-chile e um<br />
lenço negro atado ao rosto, cheg<strong>ou</strong> à rua Beira-Rio.<br />
Campos, a bela cida<strong>de</strong> fluminense, dormia silenciosa espelhando nas águas<br />
sem ruído do Paraíba as suas casas caiadas e a luz avermelhada dos seus<br />
lampiões.<br />
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