Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
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www.nead.unama.br<br />
— E on<strong>de</strong> ficaram os escravos?<br />
— Fugiram os principais autores e fic<strong>ou</strong> apenas o Carlos, que <strong>de</strong>ixei ficar na<br />
barra <strong>de</strong> Macabu para tratar-se. Quase matei-o na primeira explosão.<br />
Passado um breve silêncio, durante o qual o coletor, com os olhos rasos <strong>de</strong><br />
lágrimas, foi p<strong>ou</strong>co a p<strong>ou</strong>co <strong>de</strong>senrugando a fronte; exclam<strong>ou</strong>:<br />
— Não há o que temer; não <strong>de</strong>sanimemos.<br />
— É o que lhe parece, meu amigo; há tudo a temer.<br />
— Por quê, haverá alguém que acredite que minha mãe fosse capaz <strong>de</strong><br />
mandar assassinar uma família? Explicaremos tudo e a verda<strong>de</strong> triunfará.<br />
— É engano seu. Há um mistério para você nos acontecimentos do sítio, e<br />
este é o ponto mais sério. Escute-me.<br />
A voz do fazen<strong>de</strong>iro abaix<strong>ou</strong>-se <strong>de</strong> modo a ser <strong>ou</strong>vida somente pelo seu<br />
Interlocutor, e a gravida<strong>de</strong> da confidência pô<strong>de</strong> apenas ser suspeitada pela comoção<br />
do coletor, que por fim sem se po<strong>de</strong>r conter disse bem alto:<br />
— Estamos perdidos!<br />
— Já vê que pronunciar o nome <strong>de</strong> sua mãe neste negócio é <strong>de</strong>sonrar toda<br />
a nossa família.<br />
— Ninguém acreditará na sua inocência; e con<strong>de</strong>ná-la-ão. Minha<br />
<strong>de</strong>sventurada mãe!<br />
— Esperemos e confiemos em Deus!<br />
Concebe-se facilmente os horrorosos pa<strong>de</strong>cimentos do fazen<strong>de</strong>iro, seu<br />
enteado e sua mulher durante esse dia; todavia não eram senão o prólogo da<br />
história do infortúnio <strong>de</strong>ssa família.<br />
No dia seguinte, o coletor, que tinha saído para indagar se já em Campos<br />
havia notícia do fatal acontecimento, encontr<strong>ou</strong>-se com o Dr. B., que abraç<strong>ou</strong>-o<br />
chorando e disse-lhe tristemente:<br />
— Fala-se já com insistência em uma tristíssima história, em que anda<br />
envolvido o nome <strong>de</strong> sua família; previnam-se enquanto é possível. Temam, porque<br />
é quase inquebrantável a força da calúnia.<br />
— Mas, objet<strong>ou</strong> o coletor, esforçando-se por dissimular o pânico <strong>de</strong> que foi<br />
logo assenhoreado, é c<strong>ou</strong>sa assim tão grave?<br />
— Se é, meu infeliz amigo, diz-se que seu padrasto mand<strong>ou</strong> assassinar uma<br />
família inteira.<br />
— Ah! Miseráveis, brad<strong>ou</strong> o coletor; havemos <strong>de</strong> ver quem vence.<br />
— Saiba mais, meu amigo, o incômodo já não é possível evitar, porque há<br />
uma parte do sub<strong>de</strong>legado <strong>de</strong> Macabu.<br />
— E basta isto para aviltar-se <strong>de</strong>sta sorte um homem <strong>de</strong> bem?<br />
— Infelizmente não é preciso mais. Há entretanto tempo para que o nosso<br />
amigo se ausente, porque o juiz <strong>de</strong> direito atualmente em exercício reluta em expedir<br />
o mandado <strong>de</strong> prisão.<br />
— Estamos, pois, salvos porque teremos tempo <strong>de</strong> confundir a calúnia.<br />
— Não se iluda com esta esperança; o proprietário da vara chamá-la-ia a si<br />
talvez amanhã.<br />
— E...<br />
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