Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
www.nead.unama.br<br />
— Não v<strong>ou</strong> fora disso, mas... Em todo o caso as eleições se aproximam e<br />
enquanto o capitão <strong>de</strong>slinda o negócio po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>scansar.<br />
Na mesma hora foi expedido um próprio para Campos a fim <strong>de</strong> comunicar à<br />
polícia o acontecimento e pedir o seu auxílio para a captura do principal criminoso<br />
que lá <strong>de</strong>via estar.<br />
O Sr. Oliveira não se enganava quer quando negava a sua consciência a<br />
sancionar o clamor do povo, quer quando previa que <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> estava em<br />
Campos.<br />
No dia da diligência no sítio, o fazen<strong>de</strong>iro tinha chegado à sua chácara na<br />
cida<strong>de</strong>, acompanhado pelo preto Domingos, sobre quem não pairava no espírito <strong>de</strong><br />
<strong>Coqueiro</strong> a menor dúvida a respeito da sua isenção no assassinato da família <strong>de</strong><br />
Francisco Benedito.<br />
Sentados sob um caramanchão estavam a Sra. D. Maria e seus filhos tanto<br />
os do primeiro consórcio, como os do segundo, com o fazen<strong>de</strong>iro.<br />
Um dos filhos do primeiro consórcio era já uma influência campista;<br />
<strong>de</strong>sempenhava as funções <strong>de</strong> coletor, e gozava <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração geral.<br />
O fazen<strong>de</strong>iro que atravessava cabisbaixo a aléia que do portão da chácara<br />
dirigia-se em linha reta até à entrada da casa, foi <strong>de</strong>spertado da abstração com que<br />
andava, pelos psius do grupo e logo conduzido para ele pelos meninos que lhe<br />
saíram ao encontro.<br />
Os seus afagos para os filhos e enteados foram misturados <strong>de</strong> lágrimas, e<br />
os abraços eram tão estreitos, os beijos tão sôfregos que a esposa e o enteado<br />
exclamaram ao mesmo tempo:<br />
— Olhe que <strong>de</strong>sta maneira faz-nos pensar que per<strong>de</strong>mos o nosso quinhão.<br />
A jovialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ambos foi, porém, bruscamente mudada em recolhimento<br />
tristonho, porque em vez <strong>de</strong> sorrisos o fazen<strong>de</strong>iro só teve lágrimas ao abraçá-los.<br />
sós.<br />
— Faça com que as crianças se retirem, porque é necessário que fiquemos<br />
Depois que a família retir<strong>ou</strong>-se, os menores cantarolando e gargalhando<br />
sem constrangimento, o coletor pergunt<strong>ou</strong> ao seu padrasto qual era a nova <strong>de</strong>sgraça<br />
sucedida no maldito sítio <strong>de</strong> Macabu.<br />
— A maior que se podia imaginar, respon<strong>de</strong>u <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>; Francisco<br />
Benedito foi assassinado com toda a sua família!<br />
— E quem foi o autor <strong>de</strong> tão tremendo crime, interrog<strong>ou</strong> o coletor que pusera<br />
<strong>de</strong> pé, trémulo e perturbado?<br />
— Não sei ainda ao certo, mas diz-se que foram os nossos escravos.<br />
— Meu Deus, meu filho, meu marido, exclam<strong>ou</strong> a Sra. D. Maria, eu s<strong>ou</strong><br />
causadora <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>sgraça, eu s<strong>ou</strong> a assas...<br />
Um violento abalo nervoso, convulsionado prolongadamente, cort<strong>ou</strong> em<br />
meio a acusação perigosíssima que a Sra. D. Maria pronunciava contra si própria.<br />
Socorrida a esposa, que foi <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então presa <strong>de</strong> uma febre <strong>de</strong>vastadora, o<br />
fazen<strong>de</strong>iro e o coletor reataram a conversação dolorosa.<br />
168