12.04.2013 Views

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

— Vamos dormir, criança, hoje v<strong>ou</strong> ressonar como um branco rico um sono<br />

<strong>de</strong>scansado. Deus te abençoe.<br />

No dia seguinte, 15 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1852, as autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Macabu<br />

entravam em nome da lei na casa em que, irônico, frio e <strong>de</strong>sapiedado, o<br />

<strong>de</strong>sconhecido efetuara o vandálico morticínio.<br />

A justiça incumbiu-se então <strong>de</strong> arrancar ao bico adunco dos corvos os<br />

cadáveres já putrefatos, e o povo que acompanh<strong>ou</strong> as autorida<strong>de</strong>s sentiu duplicarse-lhe<br />

a indignação porque presenci<strong>ou</strong> um espetáculo verda<strong>de</strong>iramente repugnante.<br />

O assassino não contentara-se em imolar oito vítimas; pelo que se via na<br />

posição e nu<strong>de</strong>z dos cadáveres havia levado a sanha até a violação do pudor das<br />

donzelas e ao <strong>de</strong>srespeito do recato <strong>de</strong> esposa.<br />

O inspetor André revel<strong>ou</strong> então ao sub<strong>de</strong>legado a <strong>de</strong>núncia que lhe fora<br />

dada pelo chefe da família assassinada contra os escravos <strong>de</strong> <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>, e<br />

alguns dos circunstantes juntaram a esta revelação a da malquerença <strong>de</strong> Faustino e<br />

Flor com o finado Francisco Benedito.<br />

Acrescia que o fazen<strong>de</strong>iro tinha chegado na noite dos assassinatos e que<br />

um dos homens livres, Flor, tinha vindo com ele na mesma canoa. Faustino matava<br />

por dinheiro e dissera que se <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> lhe pagasse bem não trepidaria<br />

extinguir a raça <strong>de</strong> Francisco Benedito.<br />

Assim, pois, o inspetor redigiu a parte do crime, imputando-o a <strong>Motta</strong><br />

<strong>Coqueiro</strong>, na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mandante, aos seus escravos, e Faustino Pereira da<br />

Silva e Florentino Silva como autores.<br />

Prestadas as honras funerárias à família do agregado, a polícia trat<strong>ou</strong><br />

imediatamente <strong>de</strong> pôr cerco ao sítio.<br />

Prov<strong>ou</strong>-se até à evidência o fundamento da suspeita pública sobre a autoria<br />

do crime execrando.<br />

Não foram encontrados no sítio nem <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> nem muitos dos seus<br />

escravos, e pelo <strong>de</strong>poimento da preta Balbina, a quem conseguiram verific<strong>ou</strong>-se<br />

ainda que os escravos ausentes eram justamente os <strong>de</strong>nunciados por ela como<br />

instrumentos do mandante, Fidélis, Alexandre, Carlos, Sabino, Peregrino e<br />

Domingos.<br />

O clamor público intumesceu-se como um vulcão sobre a cabeça do<br />

fazen<strong>de</strong>iro, e como o vulcão se <strong>de</strong>sfaz em raios e aguaceiros, prorrompeu em<br />

calúnias e maldições.<br />

— Foi ele; aquele sangüinário capitão; já não é a primeira; tem morto muitos<br />

escravos em surras! Mas, po<strong>de</strong> fazer, porque é rico, tem dinheiro.<br />

A oficiosida<strong>de</strong> popular para a difamação do próximo dava-se asas e voava<br />

<strong>de</strong>simpedidamente.<br />

Os escravos do fazen<strong>de</strong>iro ficaram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo à disposição das autorida<strong>de</strong>s,<br />

mas, o Sr. Oliveira, não obstante <strong>de</strong>senvolver máxima ativida<strong>de</strong> para a captura dos<br />

indigitados criminosos, disse todavia ao inspetor:<br />

— Era capaz <strong>de</strong> jurar a favor do capitão; não me parece capaz <strong>de</strong><br />

semelhante crime.<br />

— Mas as provas, que são todas contra ele, dizem justamente o contrário,<br />

com perdão <strong>de</strong> V. S.<br />

167

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!