Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
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Este começ<strong>ou</strong> por perguntar-lhe se, <strong>de</strong> fato, havia chegado o capitão, e<br />
obtendo da feiticeira resposta afirmativa, prosseguiu:<br />
— Ele já sabe da sorte do agregado?<br />
— Veio ven<strong>de</strong>r ma<strong>de</strong>ira, respon<strong>de</strong>u Balbina; nem pens<strong>ou</strong> ainda no<br />
compadre.<br />
— Pois aconteceu uma c<strong>ou</strong>sa horrível, minha velha, e é preciso que ele saiba.<br />
— A casa gran<strong>de</strong> está aberta; po<strong>de</strong> ir falar com o senhor, <strong>ou</strong> se quiser fale<br />
com o Fidélis, que é o feitor.<br />
— Não, não quero falar ao teu senhor, minha velha; s<strong>ou</strong> pobre, mas s<strong>ou</strong><br />
homem <strong>de</strong> bem; não po<strong>de</strong>ria encarar com ele. Escuta e dá ao teu senhor este recado.<br />
Dize-lhe que há quatro noites um homem <strong>de</strong> bem estava por acaso junto da<br />
casa <strong>de</strong> Francisco Benedito, quando viu chegarem quatro escravos <strong>de</strong>ste sitio,<br />
alumiados por um facho. Bateram à porta e um <strong>de</strong>les, que parecia mandar sobre os<br />
<strong>ou</strong>tros, a quem chamavam Fidélis, entr<strong>ou</strong> como um cavalo disparado <strong>de</strong>ntro da casa<br />
do agregado do capitão.<br />
Fal<strong>ou</strong> muito lá <strong>de</strong>ntro. De repente aparece junto do escravo, que tinha ficado<br />
fora com o facho, o filho <strong>de</strong> Francisco Benedito e arruma-lhe uma paulada mortal.<br />
Mas err<strong>ou</strong> o alvo. Todos os <strong>ou</strong>tros escravos saíram em socorro do companheiro,<br />
mas não pu<strong>de</strong>ram agarrar o rapaz.<br />
Então Fidélis quis pôr fogo â casa, e se conteve-se foi <strong>de</strong>vido a um segredo<br />
que lhe disse um molecote, que estava no grupo.<br />
Passaram dois dias sem que nada mais acontecesse ao agregado, porque<br />
ainda ontem eu o vi.<br />
Hoje, porém, tive diante <strong>de</strong> meus olhos uma vista horrível. Des<strong>de</strong> a estrada<br />
eu reparei que todas as portas e janelas estavam fechadas, e estremeci.<br />
Mais perto dobr<strong>ou</strong>-se-me o temor; a frente da casa tinha sinais <strong>de</strong> fumaça e<br />
a coberta <strong>de</strong> sapé estava quase toda queimada. Pensei logo que se tinha realizado<br />
a ameaça <strong>de</strong> Fidélis e corri. Não era só isto o que eu <strong>de</strong>via ver. Quando empurrei a<br />
porta, não pu<strong>de</strong> conter o choro; a casa <strong>de</strong> Francisco Benedito é hoje um cemitério;<br />
mataram todos, todos.<br />
— Jesus! Exclam<strong>ou</strong> Balbina, nem p<strong>ou</strong>param a moça que o senhor estimava<br />
tanto. Antes os brancos não tivessem dado or<strong>de</strong>m!<br />
— Vai, vai, minha velha; conta a teu senhor esta <strong>de</strong>sgraça.<br />
Balbina, temporariamente comovida, apress<strong>ou</strong> o passo em direção à casa<br />
gran<strong>de</strong>, e o <strong>de</strong>sconhecido, sorrindo então <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhosamente, disse com uma<br />
inflexão <strong>de</strong> voz que faria estremecer ao mais fleumático dos homens.<br />
— Teve pena a <strong>de</strong>sgraçada, e eu lastimo que fique sobre a terra uma filha<br />
daquela raça. Os malditos tinham p<strong>ou</strong>co sangue.<br />
Depois <strong>de</strong> uma breve pausa, disse ainda:<br />
— Tenho pena do capitão; talvez venha a sofrer pela morte daquelas<br />
víboras. Deus o <strong>de</strong>fenda.<br />
Ditas estas palavras o <strong>de</strong>sconhecido afast<strong>ou</strong>-se com passo lesto e firme.<br />
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