Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
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Estes, que tinham pressa <strong>de</strong> voltar para Macaé, não <strong>de</strong>ixaram esperdiçar um<br />
minuto e ocuparam-se durante todo o dia em discutir o preço das ma<strong>de</strong>iras e as<br />
condições do seu transporte.<br />
A mais perfeita tranqüilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espírito expandia os modos e as palavras<br />
<strong>de</strong>ssa reunião <strong>de</strong> amigos, à exceção do fazen<strong>de</strong>iro que parecia estar preocupado.<br />
Quem, à tardinha, afastando-se da casa gran<strong>de</strong>, se dirigisse à casa nova,<br />
assistiria aí a uma cena <strong>de</strong> requintado cinismo.<br />
O assassino da in<strong>de</strong>fesa família andara durante todo o dia ro<strong>de</strong>ando as suas<br />
vítimas como um corvo em torno da carniça.<br />
Quase ao pôr do sol o companheiro, que na véspera fora por ele <strong>de</strong>spedido,<br />
veio também farejar as cercanias da casa do inimigo comum.<br />
O silêncio profundo que reinava ali fê-lo aproximar-se mais e mais até que<br />
finalmente coloc<strong>ou</strong>-se entre as bananeiras.<br />
O aspecto da casa fê-lo pensar na previsão do seu companheiro e para<br />
certificar-se cheg<strong>ou</strong> até mais perto.<br />
O bafio do sangue apodrecido e o som do intenso e perene zumbir do<br />
mosqueiro certificaram-no <strong>de</strong> que lá <strong>de</strong>ntro jaziam cadáveres.<br />
Olh<strong>ou</strong> em torno <strong>de</strong> si; <strong>de</strong>pois espreit<strong>ou</strong> pela fresta da porta, e como se o<br />
espicaçasse o remorso, recu<strong>ou</strong> espavorido, e, arrancando violentamente o lenço que<br />
lhe encobria parte do rosto, exclam<strong>ou</strong> dolorosamente.<br />
— Mariquinhas, minha Mariquinhas! Eu havia <strong>de</strong> saber p<strong>ou</strong>par-te.<br />
Ao dizer a última palavra os cabelos eriçaram-se-lhe, e agach<strong>ou</strong>-se transido<br />
<strong>de</strong> terror.<br />
É que a pesada mio do companheiro tinha-se-lhe colocado sobre o ombro,<br />
apertando-o fortemente.<br />
— Traíste a tua cobardia, <strong>ou</strong> mentes como um cão. Ou assassinaste a esta<br />
raça danada, <strong>ou</strong> querias enganar-me.<br />
Manuel João que era o companheiro do assassino, tremia miseravelmente e<br />
não <strong>ou</strong>sava respon<strong>de</strong>r.<br />
— Como tu és cobar<strong>de</strong>, brad<strong>ou</strong> o selvagem; como virias comprometer-me,<br />
se Deus não confiasse a <strong>ou</strong>tras mãos a nossa vingança. Felizmente ainda há<br />
homens <strong>de</strong> coragem. O capitão cheg<strong>ou</strong> ontem e eis aqui os <strong>de</strong>stroços. Bem to dizia<br />
eu!<br />
Depois <strong>de</strong> uma breve pausa, continu<strong>ou</strong>:<br />
— É preciso que nos afastemos daqui; se nos vissem estaríamos perdidos.<br />
Vai, não tornes nunca mais a este lugar amaldiçoado. Eu também seguirei o meu<br />
<strong>de</strong>stino.<br />
O silêncio e o abandono invadiram <strong>de</strong> todo o triste lugar, on<strong>de</strong> o ódio havia<br />
executado uma tremenda sentença...<br />
Talvez no mesmo instante em que o monstro imputava ao fazen<strong>de</strong>iro o seu<br />
nefando crime, os amigos <strong>de</strong>ste reunidos na casa gran<strong>de</strong> reparavam no seu malestar.<br />
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