Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
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www.nead.unama.br<br />
Logo porém que chegaram junto às bananeiras, com a agilida<strong>de</strong> e certeza<br />
<strong>de</strong> um bote <strong>de</strong> tigre, Juca Benedito foi colhido pelas mãos vigorosas do homem<br />
possante, e sem que tivesse podido proferir uma palavra, caiu em cheio por terra.<br />
O homem volt<strong>ou</strong> <strong>de</strong> novo à casa, acen<strong>de</strong>u com o maior sangue frio um<br />
can<strong>de</strong>eiro e dirigiu-se à cozinha.<br />
Tir<strong>ou</strong> da bainha a faca ensangüentada e, cortando com ela uma corda que<br />
se estendia <strong>de</strong> um canto a <strong>ou</strong>tro do vão, dirigiu-se em seguida ao quarto da sala,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter trancado e guardado as chaves <strong>de</strong> todas as portas, e posto a foice por<br />
<strong>de</strong>trás do estrado.<br />
Dormiam nesse quarto Francisco Benedito e sua mulher.<br />
O intruso, <strong>de</strong> uma reviravolta, amarr<strong>ou</strong> os braços que o adormecido tinha<br />
cruzados sobre o peito.<br />
O agregado levant<strong>ou</strong>-se <strong>de</strong> chofre; mas não po<strong>de</strong> clamar por socorro porque<br />
foi no mesmo instante amordaçado.<br />
Despertada pelo abalo que produziu no leito o pulo do marido, e vendo<br />
diante <strong>de</strong> si aquele homem com um sorriso mau a contrair-lhe os grossos beiços, ao<br />
passo que o marido forcejava para libertar-se <strong>de</strong> suas mãos, a pobre senhora<br />
precipit<strong>ou</strong>-se corajosamente sobre o malvado.<br />
Francisco Benedito já havia caído, porque com uma ponta da corda foramlhe<br />
amarrados os joelhos.<br />
O facínora esper<strong>ou</strong> calmamente o assalto da fraqueza feminil, encorajada<br />
pela <strong>de</strong>dicação e o amor.<br />
As mãos da esposa seguraram-se como duas tenazes aos braços do<br />
homem; enquanto que sua flébil voz, querendo bradar, murmurava apenas:<br />
— Malvado, que mal te fizemos nós?<br />
Os olhos do agressor fuzilaram francamente a cólera longos anos represa, e<br />
ele respon<strong>de</strong>u aparentemente sereno:<br />
— Nenhum! Bem sabem que nenhum.<br />
— Salvai-nos, meu Deus; estamos todos perdidos, exclam<strong>ou</strong><br />
angustiosamente a senhora.<br />
— Nem Deus, nem o diabo!<br />
Proferindo estas palavras, os punhos do agressor, calcando sobre os<br />
ombros da <strong>de</strong>sventurada esposa, fizeram-na cair <strong>de</strong> joelhos.<br />
— Mate-nos, se tanto <strong>de</strong>seja, mas p<strong>ou</strong>pe nossos filhos, que não lhe fizeram<br />
mal nenhum.<br />
O monstro riu-se e à proporção que, posto um joelho sobre o estômago e<br />
arqueada a mão sobre a garganta da infeliz, estrangulava-a cinicamente, dizia<br />
entre<strong>de</strong>ntes:<br />
— Eu não esperaria tanto tempo para vingar-me se bastasse-me tão p<strong>ou</strong>co<br />
sangue. Irão todos, um por um, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o menor até o maior. Bem sabe que já perco<br />
um dos da tua raça; é <strong>de</strong>mais.<br />
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