12.04.2013 Views

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

tomada pelas suas mãos, Deus sabe a causa. Ambos temos sofrido muito, mas a<br />

sorte não quer que sejamos nós os que <strong>de</strong>mos a satisfação às nossas dores.<br />

Paciência. Entretanto ninguém mais do que eu tinha o direito <strong>de</strong> dizer ante a vida da<br />

família con<strong>de</strong>nada: — é minha, minha só; mas você vê bem que eu não <strong>de</strong>sespero.<br />

Algum dia vir-se-á a saber a história do homem que você encontr<strong>ou</strong> no caminho da<br />

vingança; compreen<strong>de</strong>rá então como era triste. Po<strong>de</strong> partir.<br />

— Não será mais do que a minha, a<strong>de</strong>us!<br />

O caboclo não se <strong>de</strong>mor<strong>ou</strong> muito no escon<strong>de</strong>rijo após a saída do<br />

companheiro. Antes porém <strong>de</strong> retirar-se cav<strong>ou</strong> com a foice um buraco, enterr<strong>ou</strong> o<br />

saco das provisões, e abriu com a ponta da faca na casca da árvore uma enorme<br />

cruz.<br />

— Por mais que tu cresças, disse ele olhando para árvore, não se apagará<br />

este sinal, e os meus po<strong>de</strong>rão saber se eu tive <strong>ou</strong> não coragem <strong>de</strong> vingar-me.<br />

Seriam <strong>de</strong>z horas da noite quando os leques das bananeiras, que se<br />

erguiam no terreiro da casa <strong>de</strong> Francisco Benedito, estremeceram ao <strong>de</strong> leve, como<br />

o capinzal por on<strong>de</strong> as preás correm amedrontadas.<br />

Um vulto saiu <strong>de</strong>ntre elas e caminh<strong>ou</strong> vagarosamente em torno <strong>de</strong> toda a<br />

casa. Certific<strong>ou</strong>-se <strong>de</strong> que ninguém o via.<br />

Voltando à frente da casa e agarrando-se aos entulhos da pare<strong>de</strong>, marinh<strong>ou</strong><br />

até à cobertura <strong>de</strong> sapé, cuja superfície molhada pela chuva não <strong>de</strong>ix<strong>ou</strong> <strong>ou</strong>vir o<br />

menor estalido.<br />

Separando cautelosamente as ramas do teto, conseguiu em p<strong>ou</strong>cos minutos<br />

<strong>de</strong>saparecer através <strong>de</strong>le.<br />

Na sala <strong>de</strong> visitas, on<strong>de</strong> dormiam três crianças alumiadas por uma lamparina<br />

colocada sobre uma velha mesa diante <strong>de</strong> um tosco oratório, apareceu o homem<br />

que tinha gravado a cruz na casca da árvore.<br />

Depois <strong>de</strong> se ter inclinado sobre as crianças, e fitado-as por algum tempo,<br />

abriu sem ruído a porta, saiu, caminh<strong>ou</strong> até as bananeiras e volt<strong>ou</strong> logo trazendo<br />

consigo a foice e a espingarda. Fech<strong>ou</strong> <strong>de</strong> novo a porta e guard<strong>ou</strong> a chave sob o<br />

oratório.<br />

Como quem conhecesse perfeitamente a disposição dos aposentos, seguiu<br />

pelo corredor que abria ao fundo da sala.<br />

Na sala <strong>de</strong> jantar, sobre um estrado, ressonava o bom sono da confiança o<br />

filho do agregado. O visitante noturno viu-o, graças à clarida<strong>de</strong> que fr<strong>ou</strong>xamente<br />

<strong>de</strong>rramava-se na sala, e sorriu.<br />

Depois abaix<strong>ou</strong>-se sobre ele e balanç<strong>ou</strong>-o, dizendo baixinho ao moço que<br />

assentara-se sobressaltado:<br />

— Não me conheces, não é verda<strong>de</strong>? Pois sabe que s<strong>ou</strong> um amigo <strong>de</strong><br />

infância <strong>de</strong> teu velho pai. Ouvi ontem a história do assalto dado aqui pelos escravos<br />

do capitão. Este cheg<strong>ou</strong> hoje e não tardará que venha concluir a sua obra. Vem<br />

comigo, e dali das bananeiras com as nossas duas espingardas <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>remos a<br />

casa. Vem.<br />

O moço, que não teve tempo <strong>de</strong> refletir, levant<strong>ou</strong>-se <strong>de</strong> um pulo e, seguindo<br />

o que ele julgava amigo da família, saiu com ele pela porta dos fundos, que foi<br />

fechada por fora.<br />

153

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!