12.04.2013 Views

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

— E creio que não vinham sós, acrescent<strong>ou</strong> o <strong>de</strong>nunciante, porque se não<br />

me engano <strong>ou</strong>vi quando os malvados se retiravam as vozes <strong>de</strong> Faustino Silva e do<br />

Flor.<br />

O inspetor André, que até então tinha <strong>ou</strong>vido sem protesto e dando aos<br />

diabos o fazen<strong>de</strong>iro, relut<strong>ou</strong> ante a veracida<strong>de</strong> da presença dos dois últimos<br />

indigitados.<br />

— Ainda o Faustino vá lá, porque é capaz <strong>de</strong> mais, porém Flor, causa-me<br />

espanto; é tão metido consigo e nunca h<strong>ou</strong>ve <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns com ele.<br />

— Nunca?! Ora, seu André, não acredite. Ainda há p<strong>ou</strong>cos dias ele disse-me<br />

que era bem bom que eu morresse; porque s<strong>ou</strong> um malvado. Veja só vosmecê.<br />

Em seguida Francisco Benedito narr<strong>ou</strong> a altercação travada entre ele,<br />

Florentino e Faustino, e, para garantir o efeito, carregando artisticamente o colorido<br />

e a disposição dos adjetivos.<br />

O inspetor André, sentindo no hálito do queixoso um cheiro pronunciado <strong>de</strong><br />

álcool, teve siso bastante para <strong>de</strong>scontar-lhe os exageros <strong>de</strong>scritivos e conseguiu<br />

asserenar-lhe os assanhados temores, chamando em seu auxilio a galhofa.<br />

or<strong>de</strong>m.<br />

— Mas diga-me cá, seu Chico; o <strong>Coqueiro</strong> anda pela terra? Pergunt<strong>ou</strong> ele.<br />

— Que eu saiba, não; mas <strong>de</strong>u or<strong>de</strong>m para que me <strong>de</strong>sancassem.<br />

— Mas os escravos <strong>de</strong>pois da sova <strong>de</strong> pau hão <strong>de</strong> custar muito a cumprir a<br />

— Po<strong>de</strong> ser que não; virão todos contra mim e o meu filho, e nós não<br />

po<strong>de</strong>remos resistir.<br />

— Leva sustos, seu Chico; você o que precisa é ter mais confiança na gente.<br />

Ouça, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> amanhã, que é domingo, eu levarei um leitão para comermos e<br />

<strong>de</strong>pois conversarmos a respeito da c<strong>ou</strong>sa; verá como tudo se arranja.<br />

— Então eu espero por vosmecê.<br />

— E mais o leitão.<br />

O inspetor não dava inteiro crédito à <strong>de</strong>núncia do agregado e até convenciase<br />

<strong>de</strong> que o assalto, a se ter dado, <strong>de</strong>via ser por motivos que Francisco Benedito<br />

não <strong>ou</strong>sava comunicar-lhe.<br />

Assim, pois, não tom<strong>ou</strong> nenhuma providência e nem mais pens<strong>ou</strong> no<br />

acontecimento.<br />

Francisco Benedito, porém, saiu a espalhar pela vizinhança que o seu<br />

compadre mandara matá-lo pelos seus escravos e que o assassinato não realiz<strong>ou</strong>se<br />

graças à sua coragem.<br />

A credulida<strong>de</strong> sertaneja, sempre inclinada a se <strong>de</strong>ixar penetrar por embustes<br />

e falsida<strong>de</strong>s, <strong>ou</strong>viu, murmur<strong>ou</strong>, coment<strong>ou</strong> e finalmente em altos brados aprego<strong>ou</strong> por<br />

toda a parte, como verda<strong>de</strong>, a <strong>de</strong>lação do agregado.<br />

Só à noitinha Francisco Benedito volt<strong>ou</strong> da sua peregrinação. Trazia a alma<br />

<strong>de</strong>safogada, porque o dia tinha-lhe sido uma apoteose. Lúcio Ribeiro, Sebastião e<br />

<strong>ou</strong>tros tinham-no acompanhado, glorificando-o por tanta valentia em anos tão<br />

adiantados.<br />

Na estrada geral, nos mesmos taquaruçus em que Sebastião e o agregado<br />

realizaram o seu plano contra o fazen<strong>de</strong>iro, dois homens estavam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> manhã<br />

cedo emboscados.<br />

144

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!