Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
www.nead.unama.br<br />
como se faz na casa dos maribondos, que não são tão maus como vosmecê. É<br />
<strong>de</strong>cidir.<br />
Fora zuniu o <strong>de</strong>sfechar <strong>de</strong> uma paulada e em seguida <strong>ou</strong>viu-se um brado<br />
colérico:<br />
— Tu me pagas, <strong>de</strong>sgraçado; tu me pagas já.<br />
Os três saltaram precipitadamente fora da sala, porque reconheceram a voz<br />
do parceiro, que tendo <strong>de</strong>ixado o facho próximo à casa, corria pelo terreiro após um<br />
vulto, que ele <strong>de</strong>pois disse ser Juca Benedito.<br />
— Ah! Vocês fazem-se pimpões; pois esperem; hão <strong>de</strong> sair amanhã mesmo<br />
daqui. Esperem.<br />
Suspen<strong>de</strong>ndo o facho, Fidélis cheg<strong>ou</strong>-o até à beira do teto <strong>de</strong> sapê. Bastava<br />
uma pequena <strong>de</strong>mora para que a casa fosse irremediavelmente perdida.<br />
— Não faça, não faça, tio Fidélis! Grit<strong>ou</strong> Carlos.<br />
E abaixando mais a voz:<br />
— Foi sá Antonica que foi socorrer senhor, e ela não tem culpa do que o pai<br />
faz.<br />
— Ali! Velho cachaceiro dos diabos, é o que te vale; senão hoje mesmo <strong>de</strong><br />
dormir no mato Mas se não mudas <strong>de</strong> pensar eu não atenção a mais nada... Deixa<br />
esse <strong>de</strong>sgraçado! Brad<strong>ou</strong> em seguida; isso é um fe<strong>de</strong>lho.<br />
Os escravos afastaram-se comentando o caso, mas quem atentasse para o<br />
grupo <strong>de</strong> bananeiras que ficavam a p<strong>ou</strong>ca distância da casa, po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>scobrir um<br />
vulto que seguia atentamente todos os movimentos.<br />
Quando a luz do facho extinguiu-se completamente, e o terreiro silencioso<br />
recaiu na obscurida<strong>de</strong>, o vulto saiu <strong>de</strong>ntre as árvores, par<strong>ou</strong> e esten<strong>de</strong>u um dos<br />
braços, que agit<strong>ou</strong> no espaço.<br />
Uma voz r<strong>ou</strong>ca e abafada articul<strong>ou</strong> estas misteriosas palavras:<br />
CAPÍTULO X<br />
— Bom! Muito bem! Agora começo eu!<br />
A CENA DE SANGUE<br />
Na manhã do dia seguinte o inspetor André recebia <strong>de</strong> Francisco Benedito<br />
uma <strong>de</strong>núncia gravíssima contra <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> e seus escravos.<br />
Dizia o agregado que a sua casa tinha sido alta noite atacada pelos<br />
escravos Fidélis, Carlos, Alexandre, Peregrino e Domingos, que por mando do seu<br />
senhor tinham ido espancá-lo e pôr fogo à sua casa, crime que não se efetu<strong>ou</strong> por<br />
ter ele, Francisco Benedito, caceteado um dos escravos, pondo assim os <strong>ou</strong>tros em<br />
fuga.<br />
143