Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
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www.nead.unama.br<br />
Corriam os primeiros dias <strong>de</strong> setembro. Uns ma<strong>de</strong>ireiros <strong>de</strong> Macaé, entre os<br />
quais vinha o Sr. Conceição, chegaram ao sítio <strong>de</strong> Macabu para comprar o resto das<br />
ma<strong>de</strong>iras ao fazen<strong>de</strong>iro, que se achava em Campos.<br />
Uma canoa foi <strong>de</strong>spachada para avisar <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>, e Fidélis com os<br />
seus parceiros começaram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo a embalsar as ma<strong>de</strong>iras, por isso que o Sr.<br />
Conceição <strong>de</strong>clarava que era negócio <strong>de</strong>cidido e tinha pressa <strong>de</strong> conduzir as balsas.<br />
No dia 9 <strong>de</strong> setembro pela manha, chegando Fidélis ao porto, encontr<strong>ou</strong><br />
cortadas as amarras das balsas e gran<strong>de</strong> parte da ma<strong>de</strong>ira no fundo do rio.<br />
Evi<strong>de</strong>nciava-se que a malda<strong>de</strong> fora a conselheira do fato, e esta não podia ser<br />
atribuída senão a Francisco Benedito, que já <strong>ou</strong>tras vezes tinha praticado atos mais<br />
graves.<br />
O feitor cal<strong>ou</strong>-se e durante o dia não <strong>de</strong>ix<strong>ou</strong> sequer transparecer a raiva que<br />
necessariamente sentia.<br />
Apenas comunic<strong>ou</strong> o ocorrido aos hóspe<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seu senhor, pedindo-lhes<br />
que <strong>de</strong>sculpassem a <strong>de</strong>mora involuntária.<br />
Á noite, <strong>de</strong>pois da revista, Fidélis empunhando uma espingarda cham<strong>ou</strong> os<br />
seus parceiros Alexandre, Peregrino e Carlos, que tinha sido mandado para o sítio<br />
por castigo <strong>de</strong> algumas peraltadas, e or<strong>de</strong>n<strong>ou</strong>-lhes que o seguissem.<br />
Alumiados por um facho, os três seguiram pelos aceiros da roça e <strong>de</strong>ntro em<br />
p<strong>ou</strong>co achavam-se diante da casa do agregado.<br />
As portas e janelas estavam fechadas, porém partiam vozes do interior.<br />
— Estão acordados, disse Fidélis; tanto melhor porque <strong>de</strong>mora menos.<br />
Quando o feitor ia bater à porta, pergunt<strong>ou</strong>-lhe Carlos, a quem o acento da<br />
voz do parceiro impressionara profundamente:<br />
— O que é que você vem fazer na casa <strong>de</strong>ssas feras?. Isto dá em <strong>de</strong>sgraça,<br />
Fidélis.<br />
— Dê no que <strong>de</strong>r; eu tenho or<strong>de</strong>m dos brancos, respon<strong>de</strong>u o feitor, e bateu<br />
brutal e prolongadamente à porta.<br />
— Más horas <strong>de</strong> visita é esta, disse <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro Francisco Benedito; enfim vá lá.<br />
Apenas a porta abriu-se, Francisco Benedito, atemorizado pela qualida<strong>de</strong><br />
dos visitantes, recu<strong>ou</strong> até o meio da sala, gritando compungentemente:<br />
— Estamos perdidos, estamos perdidos.<br />
— Não tenha susto, não, seu Chico; vosmecê é tão valentão que até a gente<br />
não acredita que fique logo tremendo. Isto é só um aviso.<br />
À proporção que falava, Fidélis, acompanhado por Peregrino e Carlos,<br />
entrava pela sala do agregado, e apo<strong>de</strong>rava-se <strong>de</strong> uma espingarda que estava<br />
encostada em um canto.<br />
— Nós não somos assassinos; não fazemos emboscada, não, meu branco;<br />
mas eu s<strong>ou</strong> feitor, e quero dizer-lhe que isto <strong>de</strong> andar vosmecê, seu filho e seus<br />
amigos <strong>de</strong>stroçando o sítio, não me vai cheirando bem. Canalhada, canalhada e<br />
meia; hoje amanheceram as balsas cortadas; todos os dias é um <strong>de</strong>saforo: morte<br />
nos gados, fogo nos cafezais, o diabo a quatro. Eu venho saber se vosmecê quer ir<br />
por bem <strong>ou</strong> por mal. Se quer ir por mal não me custa nada a pôr fogo neste rancho,<br />
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