Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
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www.nead.unama.br<br />
Queria que o feitor fizesse respeitar a proprieda<strong>de</strong> do seu senhor pelo<br />
agregado e sua família. Caso não fosse atendido, ficava-lhe o direito <strong>de</strong> valer-se da<br />
força.<br />
Fidélis esperava semelhante autorização para operar, e para exprimir a<br />
energia com que trataria <strong>de</strong> obter a mudança <strong>de</strong> Francisco Benedito, disse sem<br />
reserva:<br />
— Aquele branquinho tem agora <strong>de</strong> tratar comigo: há <strong>de</strong> mudar-se ainda que<br />
eu lhe faça como aos maribondos; ainda que lhe queime a casa.<br />
Os expedientes tomados pelo feitor conseguiram intimidar por algum tempo<br />
o agregado, que se acovard<strong>ou</strong> principalmente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia em que, perseguindo-lhe<br />
o atrevido filho, Fidélis não duvid<strong>ou</strong> chegar até às portas da sua casa.<br />
Então Francisco Benedito julg<strong>ou</strong> mesmo ser pru<strong>de</strong>nte ce<strong>de</strong>r à proposta do<br />
fazen<strong>de</strong>iro para a venda das benfeitorias, e incumbiu <strong>de</strong>sse negócio um amigo<br />
comum.<br />
As hostilida<strong>de</strong>s arrefeceram e entabul<strong>ou</strong>-se a negociação procrastinada<br />
pelas exigências irrazoáveis do agregado, que entendia receber o dobro do justo<br />
valor na venda.<br />
— Ele há <strong>de</strong> ce<strong>de</strong>r por fim, observava o intermediário a <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>;<br />
<strong>de</strong>ixe passar mais algum tempo, não é muito para quem tem tido tanta paciência.<br />
Irritado, porém, pela resistência que as suas pretensões encontravam no<br />
ânimo inabalável do fazen<strong>de</strong>iro, e além disso instigado pelas autorida<strong>de</strong>s que<br />
visavam a retirada do competidor daqueles lugares, Francisco Benedito recomeç<strong>ou</strong><br />
<strong>de</strong>sabridamente os seus <strong>de</strong>smandos.<br />
Um dia em que em uma das vendolas, quase totalmente ébrio, o agregado<br />
vociferava diante <strong>de</strong> Faustino e Florentino contra <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>, disse Florentino:<br />
— Você é um malvado, seu Chico; é um homem que <strong>de</strong>via morrer.<br />
— Se me pagassem bem, eu arranjava isto, resmung<strong>ou</strong> Faustino; queira o<br />
capitão e eu ponho um ponto à pendência.<br />
Uma troca <strong>de</strong> insultos <strong>de</strong> parte a parte seguiu-se <strong>de</strong>sastradamente e<br />
termin<strong>ou</strong> por uma intimação formal <strong>de</strong> Faustino a Francisco Benedito:<br />
— Cala a boca daí, velho cachaça, <strong>ou</strong> faço-te calar à força. Quanto ao teu<br />
genro torto, po<strong>de</strong>s dizer-lhe que se ele continuar com os <strong>de</strong>saforos, eu visto-lhe uma<br />
camisa <strong>de</strong> pau com vento fresco. É o que falta a vocês dois, bêbados!<br />
A altercação na vendola surgiu daí a alguns dias corporada em uma calúnia<br />
assaz comprometedora.<br />
Dizia-se por toda a parte que <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> tinha encarregado Faustino e<br />
Florentino <strong>de</strong> assassinarem a Sebastião Pereira!<br />
O mais grave, o mais incrível era que Bento Silva, irmão <strong>de</strong> Faustino, era um<br />
dos que se encarregavam <strong>de</strong> propalar semelhante versão, e dizendo que <strong>ou</strong>vira ao<br />
próprio Faustino.<br />
Para cúmulo <strong>de</strong> infelicida<strong>de</strong> sobreveio uma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m entre o agregado e os<br />
escravos.<br />
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