Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
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www.nead.unama.br<br />
— Assim pois o mal é sem remédio?<br />
— Parece que pela justiça é, mas resta-nos um meio, obrigar o compadre a<br />
mudar-se.<br />
— O que eu noto é que o senhor não se agasta muito com isto, e não há<br />
explicação razoável para o seu procedimento.<br />
— Se eu per<strong>de</strong>sse a cabeça e fizesse alguma asneira ser-lhe-ia agradável?<br />
Pelo amor <strong>de</strong> Deus, sejamos pru<strong>de</strong>ntes.<br />
— A maior prudência era ven<strong>de</strong>r o sítio.<br />
— Se aparecesse comprador.<br />
— Nunca aparecerá, porque o senhor ainda quer adquirir mais terras<br />
naquele maldito lugar.<br />
— Mas em que nos prejudica termos <strong>ou</strong> não termos terrenos em Macabu,<br />
não me dirá?<br />
Apesar do tom <strong>de</strong> azedume do seu marido, a Sra. D. Maria insistiu<br />
longamente sobre os negócios do sítio. O seu fim era obter uma resposta <strong>de</strong>cisiva,<br />
que lhe pautaria <strong>de</strong> futuro o seu procedimento.<br />
— Eu lhe repito: não posso admitir que esse estado <strong>de</strong> c<strong>ou</strong>sas continue. O<br />
senhor diga com franqueza: aquele agregado é <strong>ou</strong> não castigado.<br />
— Já lho disse, senhora: o compadre há <strong>de</strong> sair das minhas terras.<br />
— Não basta, é preciso que pague a emboscada.<br />
— O meio <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>ria dispor era processá-lo, o sub<strong>de</strong>legado é meu<br />
inimigo e protege o criminoso, é impossível fazer seguir o processo. não tenho <strong>ou</strong>tro.<br />
— Era o que eu queria saber.<br />
A conversação foi cortada bruscamente por uma última frase da Sra. D.<br />
Maria, frase que felizmente não foi toda <strong>ou</strong>vida por <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>.<br />
— Eu hei <strong>de</strong> mostrar quem po<strong>de</strong> mais, Sra. Antonica.<br />
Antonica foi a única palavra <strong>ou</strong>vida por <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>, e bem fácil é<br />
aquilatar qual seria o movimento íntimo que lhe correspon<strong>de</strong>u.<br />
Seria sauda<strong>de</strong> <strong>ou</strong> seria pieda<strong>de</strong>? O certo é que, voltando a conversar com<br />
os seus empregados, <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> pon<strong>de</strong>r<strong>ou</strong>-lhes:<br />
— É muito feliz o tal meu compadre; tem por si a proteção, a saú<strong>de</strong> própria e<br />
a dos seus.<br />
— Quanto à saú<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>le não é lá muita, principalmente <strong>de</strong> sá Antonica.<br />
— Ah! Ela está doente.<br />
— Anda com umas queixas do peito, e uma tosse que vai metendo medo.<br />
A Sra. D. Maria, que se conservava à distância <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>ou</strong>vir o que se dizia,<br />
amarg<strong>ou</strong> em silêncio a <strong>de</strong>cepção que caus<strong>ou</strong> a simples exclamação do fazen<strong>de</strong>iro.<br />
— Hei <strong>de</strong> acabar com isto, repetiu a si mesma.<br />
Quando a canoa fez-se <strong>de</strong> volta a Macabu, a esposa do fazen<strong>de</strong>iro or<strong>de</strong>n<strong>ou</strong><br />
a Peregrino que transmitisse a Fidélis algumas or<strong>de</strong>ns.<br />
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