Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
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www.nead.unama.br<br />
ganho nada com isso, o que faço é per<strong>de</strong>r o meu tempo enquanto ocupo-me com<br />
esse negócio. Posso então mandar arrancar o mandiocal por minha conta?<br />
— Quando vosmecê quiser.<br />
— Ora muito bem.<br />
Des<strong>de</strong> que o amor paternal <strong>de</strong> Francisco Benedito fic<strong>ou</strong> tão eloqüentemente<br />
assentado na convicção <strong>de</strong> Licério, o processo estagn<strong>ou</strong> o seu curso natural.<br />
Sobre ele só pairavam, como lindas mães d'água, as recordações dos lucros<br />
havidos pelo rábula à boa fé das partes.<br />
Dir-se-ia que a justiça já proferira a sua última palavra a respeito da<br />
emboscada; tão gran<strong>de</strong> era a quietação.<br />
Só uma pessoa impacientava-se seriamente com esta indiferença; era a Sra.<br />
D. Maria.<br />
A boa esposa não podia conformar-se com a <strong>de</strong>susada solução <strong>de</strong> uma<br />
questão que envolvia a reputação do seu esposo, e por meados do ano <strong>de</strong> 1852,<br />
sete meses <strong>de</strong>pois do acontecimento, enten<strong>de</strong>u ela tomar a peito a punição do<br />
compadre.<br />
Uma oportunida<strong>de</strong> apresent<strong>ou</strong>-se para que a Sra. D. Maria pu<strong>de</strong>sse interrogar<br />
peremptoriamente o fazen<strong>de</strong>iro, e fê-lo com a serieda<strong>de</strong> que lhe era própria.<br />
Uma canoa chegada <strong>de</strong> Macabu a Campos tr<strong>ou</strong>xe a seu bordo além dos<br />
empregados e escravos da casa, um homem das circunvizinhanças.<br />
Florentino Silva, era o seu nome, vinha pedir a <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> para que o<br />
recebesse como seu empregado, e ao mesmo tempo comprasse-lhe a posse <strong>de</strong> um<br />
sítio na serra dos Olhos d'Água.<br />
Quanto ao primeiro pedido foi <strong>de</strong> pronto atendido pelo fazen<strong>de</strong>iro, que adi<strong>ou</strong><br />
a resposta ao segundo, visto que não conhecia o terreno que o seu empregado<br />
oferecia-lhe.<br />
Os escravos afearam os <strong>de</strong>sacatos e tropelias do agregado e concluíram por<br />
<strong>de</strong>clarar ao fazen<strong>de</strong>iro, em nome do feitor Fidélis, ser um perigo a vida no sítio.<br />
Ainda na noite <strong>de</strong> Santo Antônio tinham estado na casa <strong>de</strong> Francisco<br />
Benedito o inspetor André, o sub<strong>de</strong>legado, Joaquim Licério, Lúcio Ribeiro e vários<br />
indivíduos. Resolveram fazer uma gran<strong>de</strong> fogueira em l<strong>ou</strong>vor do santo e, para servir<br />
<strong>de</strong> combustível, escolheram um cafezal.<br />
Soprava esperto o vento e em breve as labaredas, enroscando-se pelas<br />
aléias e trepando crepitantes e fumívomas avassalavam gran<strong>de</strong> parte do plantio que<br />
fic<strong>ou</strong> completamente <strong>de</strong>struído.<br />
Alvoroçada, a gente do sítio correu para apagar o incêndio, mas foi <strong>de</strong>tida<br />
em meio caminho pelas ameaças dos folgazões, no número dos quais contavam-se<br />
as autorida<strong>de</strong>s do lugar.<br />
— Deus incumbiu-se <strong>de</strong> evitar a <strong>de</strong>sgraça que parecia inevitável. O fogo<br />
extinguiu-se por si mesmo.<br />
Ouvindo esta narração, que foi confirmada por Florentino Silva e Faustino, a<br />
Sra. D. Maria observ<strong>ou</strong> a seu marido que era urgente cortar pela raiz o mal.<br />
— Pelo que acabamos <strong>de</strong> <strong>ou</strong>vir, disse ela, o sub<strong>de</strong>legado, longe <strong>de</strong> punir,<br />
protege Francisco Benedito.<br />
— Eu tinha certeza <strong>de</strong> que isto viria a acontecer, o que quer a senhora? A<br />
autorida<strong>de</strong> cai sempre em mãos <strong>de</strong> semelhantes homens.<br />
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