Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
www.nead.unama.br<br />
As melhores e mais tocantes exclamações guard<strong>ou</strong>-as pru<strong>de</strong>nte e<br />
artisticamente o Sr. Oliveira para o efeito cênico, e <strong>de</strong>slumbrante quadro final do<br />
primeiro ato da tragédia da intriga.<br />
Introduzido na sala <strong>de</strong> visitas, ace<strong>de</strong>u sem resistência ao convite para<br />
passar aos aposentos do fazen<strong>de</strong>iro.<br />
Uma pali<strong>de</strong>z a propósito atenuava o colorido sadio do rosto do sub<strong>de</strong>legado,<br />
e um cerrar <strong>de</strong> mios, assim como um medido acento interjetivo mascaravam-lhe as<br />
intenções, â semelhança <strong>de</strong> um rótulo esmerado à mercadoria falsificada.<br />
— Ninguém po<strong>de</strong>ria pensar ao menos em que tal acontecimento fosse a<br />
paga <strong>de</strong> tantos favores, exclam<strong>ou</strong> ele. Esse miserável que em parte alguma obteria<br />
sequer passagem pelos terrenos <strong>de</strong> um homem sério e contudo conseguiu terras,<br />
casa, e a amiza<strong>de</strong> <strong>de</strong> V. S. Que alma, que torpe caráter o do tal Francisco Benedito!<br />
Faça-me o favor.<br />
— Eu lastimo-o, não con<strong>de</strong>no-o absolutamente, respon<strong>de</strong>u <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>;<br />
é extremamente ignorante e além disso embriaga-se. não é perdê-lo que tenho em<br />
vista mas simplesmente intimidá-lo.<br />
— Como?! Perdoe-me V. S. há <strong>de</strong> cumprir-se a lei. Vá lá que se tenha<br />
pieda<strong>de</strong> para com o velho <strong>de</strong>smiolado, mas com o seu cúmplice, é impossível.<br />
Qualquer brandura com ele é nada mais, nada menos do que soltar uma fera em<br />
todo esse Macabu. Se ele sem proteção faz <strong>de</strong>stas, o que não fará se tiver a justiça<br />
por si.<br />
— E o que eu penso, Sr. Oliveira, interveio a Sra. D. Maria. Parece fábula o<br />
que esses homens têm praticado conosco. V. S., que é autorida<strong>de</strong>, parece-me que<br />
<strong>de</strong>ve fazer cumprir a lei, apesar da bonda<strong>de</strong> do Sr. <strong>Motta</strong>.<br />
— Conte comigo, minha senhora; apesar <strong>de</strong> separado do senhor seu marido<br />
em política, tributo respeito ao seu honrado caráter.<br />
A conversa, <strong>de</strong>sviada para assunto diverso do que dava motivo a familiar e<br />
expansiva visita do sub<strong>de</strong>legado, volt<strong>ou</strong> por direção <strong>de</strong>ste ao ponto primitivo.<br />
— V. S. fará o favor <strong>de</strong> convidar as suas testemunhas para a audiência na<br />
minha casa. Logo que se pronunciem os réus, eu fá-los-ei pren<strong>de</strong>r; não me<br />
escapara-o, eu lho juro.<br />
— Eis uma dificulda<strong>de</strong> que não posso remover, pon<strong>de</strong>r<strong>ou</strong> fleumaticamente o<br />
fazen<strong>de</strong>iro; a emboscada foi feita em lugar ermo; não h<strong>ou</strong>ve testemunhas.<br />
— Ora, meu amigo, acudiu o Sr. Oliveira, V. S. não tem razão para<br />
<strong>de</strong>sanimar por tão p<strong>ou</strong>co. A c<strong>ou</strong>sa mais simples <strong>de</strong>ste mundo é arranjar<br />
testemunhas. Deus <strong>de</strong>fenda aquele a quem se queira per<strong>de</strong>r; com trabalho diminuto<br />
conseguem-se testemunhas <strong>de</strong> vista para acusar um paralítico pela autoria <strong>de</strong> um<br />
assassinato a vinte <strong>ou</strong> trinta léguas <strong>de</strong> distância.<br />
— Mas há para mim um embaraço grandíssimo; ainda que o fato seja<br />
verda<strong>de</strong>iro, as testemunhas serão falsas, e <strong>de</strong>sse meio creio que nenhum homem<br />
<strong>de</strong> bem se serviria.<br />
— E um modo <strong>de</strong> pensar que teria como conseqüência a morte <strong>de</strong> todos os<br />
homens <strong>de</strong> bem às mãos da canalha. V. S. parece-me exagerar muito a noção da<br />
moralida<strong>de</strong> da justiça.<br />
— Po<strong>de</strong> ser, mas não creio que V. S. tenha razão. Por este sistema <strong>de</strong><br />
distribuir a justiça, po<strong>de</strong>remos chegar ao lado oposto: obter testemunhas venais e<br />
por meio <strong>de</strong>las con<strong>de</strong>nar inocentes.<br />
135