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Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

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www.nead.unama.br<br />

O feitor afast<strong>ou</strong>-se lentamente, mas quando ia a alguma distância, foi <strong>de</strong>tido<br />

pela voz da feiticeira:<br />

— O parceiro <strong>de</strong> Balbina vai levar aos brancos o que <strong>ou</strong>viu; mas Deus está<br />

vendo que Balbina não quer o mal <strong>de</strong>les.<br />

— Não é meu costume, tia Balbina, respon<strong>de</strong>u nobremente Fidélis; eu<br />

também s<strong>ou</strong> escravo.<br />

— Jura pela morte <strong>de</strong> tua mãe, que sempre foi escrava, que sofreu como<br />

Balbina, e não teve quem a chorasse quando sofria.<br />

— Para que me lembra minha mãe, tia Balbina; o escravo não tem mãe.<br />

Juro, juro sim.<br />

— Balbina quer que se faça o castigo do agregado, inimigo dos escravos;<br />

mas não quer que Fidélis se esqueça <strong>de</strong> que é escravo. Quem mand<strong>ou</strong> ao feitor<br />

pren<strong>de</strong>r o agregado?<br />

— A senhora mand<strong>ou</strong> que o tr<strong>ou</strong>xéssemos â força, e eu havia <strong>de</strong> trazê-lo<br />

ainda que fosse morto.<br />

— Sim, sim, meu parceiro; acudiu prontamente a feiticeira. A senhora disse;<br />

cumpre, hoje, amanhã, sempre. Será menos um branco; acrescent<strong>ou</strong> num murmúrio,<br />

e a perdição dos <strong>ou</strong>tros.<br />

O açodamento com que a tia Balbina recebeu a revelação do feitor<br />

sobressalt<strong>ou</strong>-o profundamente; o que haveria <strong>de</strong>scoberto a escrava nessa or<strong>de</strong>m tão<br />

simples e tão natural?<br />

Depois <strong>de</strong> separarem-se, ainda Fidélis pensava no tom especial com que a<br />

tia Balbina lhe falara por último, e, <strong>de</strong>sconfiado, fez tenção <strong>de</strong> comunicar a sua<br />

senhora o que se passara entre eles.<br />

— Quebro o juramento, mas não importa; <strong>de</strong>scubro a malva<strong>de</strong>za que essa<br />

feiticeira escon<strong>de</strong>.<br />

Uma hábil manobra da tia Balbina inutiliz<strong>ou</strong> o plano <strong>de</strong> Fidélis.<br />

Ao sair da revista, a feiticeira acerc<strong>ou</strong>-se do feitor e segundando as palavras<br />

com as lágrimas, disse-lhe dolosamente:<br />

— Balbina já se arrepen<strong>de</strong>u <strong>de</strong> ter falado do senhor, porque ele é bom.<br />

Carlos cont<strong>ou</strong> que o branco vai perdoar o <strong>ou</strong>tro que o esper<strong>ou</strong> para matar. Balbina<br />

per<strong>de</strong>u o ódio, porque tem coração, e pe<strong>de</strong> perdão ao seu parceiro.<br />

— Foi Deus quem lhe fal<strong>ou</strong>, tia Balbina, foi Deus; respon<strong>de</strong>u Fidélis; era<br />

muita malda<strong>de</strong>.<br />

No dia seguinte duas pessoas entraram na casa gran<strong>de</strong> extraordinariamente<br />

comovidas. Uma era a tia Balbina a quem foi pela Sra. D. Maria confiada a lavagem<br />

da r<strong>ou</strong>pa dos escravos do sítio, e dado um quarto na casa gran<strong>de</strong>, honra que só<br />

recebiam as boas escravas.<br />

A <strong>ou</strong>tra era o sub<strong>de</strong>legado Oliveira, que a todo o galope atravess<strong>ou</strong> o campo<br />

do sítio e, apeando-se precipitadamente â porta da casa gran<strong>de</strong>, apert<strong>ou</strong> com<br />

ambas as mãos as da Sra. D. Maria, exclamando todo comovido:<br />

— E incrível, minha senhora; é incrível que possa haver sobre a terra tanta<br />

ingratidão.<br />

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