Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
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www.nead.unama.br<br />
— E o que havemos <strong>de</strong> dizer aos nossos amigos, quando se espalhar o<br />
boato <strong>de</strong> que o senhor foi espancado por um agregado, que assim ving<strong>ou</strong> a sedução<br />
<strong>de</strong> uma filha?<br />
— Direi que é uma calúnia tão mal engenhada que basta uma simples<br />
consi<strong>de</strong>ração para confundi-la: o homem que foi companheiro do suposto pai<br />
ofendido na <strong>de</strong>safronta imaginária <strong>de</strong> sua honra rapt<strong>ou</strong>-lhe uma das filhas.<br />
— A calúnia será <strong>de</strong> preferência acreditada porque a agressão realiz<strong>ou</strong>-se, e<br />
não tardará que todos venham a saber que é real o amor <strong>de</strong> uma das filhas do<br />
agregado pelo senhor.<br />
— Paciência; eu não posso retribuir a violência com a violência.<br />
— Há um meio, é punir o crime; para isso é que existe a lei.<br />
O diálogo termin<strong>ou</strong> pelo silêncio <strong>de</strong> <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>.<br />
As consi<strong>de</strong>rações da esposa tinham uma base irrefutável e não podiam ser<br />
abandonadas; por <strong>ou</strong>tro lado o pedido <strong>de</strong> Antonica, no momento em que expunha a<br />
sua reputação <strong>de</strong> mulher honesta e a própria vida, — porque a brutalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu<br />
pai não p<strong>ou</strong>pá-la-ia caso surpreen<strong>de</strong>sse-a em meio do ato meritório, — fazia-o<br />
vacilar.<br />
Um expediente apresent<strong>ou</strong>-se; mover o processo contra o agregado e <strong>de</strong>ixálo<br />
mais tar<strong>de</strong>, quando a primeira impressão <strong>de</strong>saparecesse, correr à revelia.<br />
Harmonizados <strong>de</strong>sta sorte o coração e o <strong>de</strong>ver, resolveu notificar o<br />
acontecimento ao Sr. Oliveira, sub<strong>de</strong>legado do lugar, e pediu a sua presença para<br />
ser cumprida a lei.<br />
Estava, pois, satisfeita a vonta<strong>de</strong> da esposa.<br />
Tranqüilizada por esta resolução <strong>de</strong> seu marido, a Sra. D. Maria teve um<br />
verda<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>safogo ao saber <strong>de</strong> uma <strong>ou</strong>tra nova.<br />
Ao chegar em casa, a indignada consorte <strong>de</strong>spachara imediatamente os<br />
escravos Fidélis, Peregrino e Alexandre, or<strong>de</strong>nando-lhes que percorressem as<br />
matas vizinhas a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir o escon<strong>de</strong>rijo dos criminosos e prendê-los.<br />
— A gente podia fazer isto, minha senhora, se eles não se levantassem<br />
contra nós; como há <strong>de</strong> acontecer, observ<strong>ou</strong> Fidélis.<br />
— E vocês não têm mãos? Se eles resistirem tragam-nos à força, tragamnos<br />
seja quando for, estejam aon<strong>de</strong> estiverem.<br />
Fidélis saiu satisfeito; a feitoria estava-lhe <strong>de</strong>finitivamente entregue; não<br />
havia mais possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> passar às mãos <strong>de</strong> Francisco Benedito.<br />
Além disso facilitava-se-lhe uma oportunida<strong>de</strong> para vingar-se dos insultos do<br />
agregado, mas, apesar da boa vonta<strong>de</strong> e zeloso esforço para capturar os fugitivos, o<br />
feitor não regozij<strong>ou</strong>-se com a realização dos seus <strong>de</strong>sejos.<br />
Os criminosos tinham-se prevenido contra esta conseqüência necessária do<br />
seu ato; a essa hora <strong>de</strong>scansavam tranqüilamente a gran<strong>de</strong> distância, e<br />
completamente fora do alcance <strong>de</strong> qualquer vingança.<br />
Quase ao anoitecer os escravos vieram participar à senhora o malogro das<br />
suas pesquisas, mau grado a solícita diligência que tinham feito para o êxito da<br />
empresa.<br />
— Está bom, respon<strong>de</strong>u-lhes a Sra. D. Maria; eles hão <strong>de</strong> aparecer em<br />
qualquer tempo.<br />
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