12.04.2013 Views

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

— É necessário que você parta, que volte para a casa <strong>de</strong> seus pais.<br />

— Por quê?<br />

— Porque ninguém acreditará que eu lhe voto o respeito <strong>de</strong> que você é<br />

digna, Antonica; hão <strong>de</strong> julgar-me seu amante.<br />

— E que me importa a mim? Não sairei daqui antes <strong>de</strong> vê-lo partir.<br />

— É um comprometimento, minha filha, e bastaria que alguém aqui nos<br />

visse, para que seu pai justificasse o seu crime. Parte, parte já, minha filha.<br />

O fazen<strong>de</strong>iro or<strong>de</strong>n<strong>ou</strong> em seguida ao seu pajem que seguisse Antonica, e<br />

ela, sem forças para resistir, apenas protest<strong>ou</strong> abaixando os olhos.<br />

— A<strong>de</strong>us! Disse comovido o fazen<strong>de</strong>iro.<br />

— A<strong>de</strong>us! Respon<strong>de</strong>u Antonica nessa triste entoação da con<strong>de</strong>scendência<br />

queixosa, e levant<strong>ou</strong>-se.<br />

— Talvez não nos vejamos nunca mais, minha filha; quero que também me<br />

concedas um perdão; conce<strong>de</strong>s?<br />

Antonica acen<strong>ou</strong> afirmativamente a cabeça.<br />

— Perdoa-me o sofrimento <strong>de</strong> que eu tenho sido causa; perdoa-me, porque<br />

eu não faço mais do que cumprir com os <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> honra para contigo e para com<br />

os meus.<br />

— Eu já não me queixo, respon<strong>de</strong>u Antonica, é o meu <strong>de</strong>stino. A<strong>de</strong>us.<br />

Apenas alguns passos tinham sido dados pela moça, quando Carlos avis<strong>ou</strong> a seu<br />

senhor <strong>de</strong> que se aproximava a gente do sitio.<br />

— Tanto melhor, respon<strong>de</strong>u <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>, não ficarei sozinho. Com efeito,<br />

<strong>ou</strong>via-se perto o tropel <strong>de</strong> uma cavalgada e antes que Antonica tivesse tido tempo<br />

<strong>de</strong> ocultar-se, Carlos exclam<strong>ou</strong> cheio <strong>de</strong> espanto:<br />

— É minha senhora, meu Deus, é minha senhora.<br />

Na extremida<strong>de</strong> da curva apareceu, montada em um forte murzelo, a Sra. D.<br />

Maria. Os pés <strong>de</strong> Antonica negaram-se a caminhar; a aparição produzia-lhe o efeito<br />

<strong>de</strong> um espectro.<br />

Apeando-se apressadamente a corajosa esposa, que adivinhara o<br />

acontecimento pela chegada do alazão, disparado e só, apert<strong>ou</strong> nos seus braços o<br />

fazen<strong>de</strong>iro.<br />

— Bem mo dizia o coração, soluçava ela; mas havemos <strong>de</strong> vingar-nos, seja<br />

embora necessário ven<strong>de</strong>r o meu último cordão <strong>de</strong> <strong>ou</strong>ro. Covar<strong>de</strong>s!<br />

H<strong>ou</strong>ve um momento <strong>de</strong> silêncio. De repente a Sra. D. Maria, tendo olhado<br />

em volta <strong>de</strong> si, exclam<strong>ou</strong> com a voz travorada <strong>de</strong> cólera:<br />

— O que veio aqui fazer aquela mulher?<br />

<strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> respon<strong>de</strong>u severamente:<br />

— Ouviu os gritos <strong>de</strong> socorro, e teve a coragem <strong>de</strong> vir.<br />

— Então não foi ela a causa da emboscada! ...<br />

— Não; é uma infeliz; culpada, não.<br />

130

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!