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Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Felizes aqueles que sabem amar: têm na própria <strong>de</strong>sventura, nas horas da<br />

maior angústia, alegrias indizíveis. Para serem venturosos basta-lhes somente a<br />

esperança.<br />

Antonica certific<strong>ou</strong>-se <strong>de</strong> que ainda batia um coração sob o peito do eleito <strong>de</strong><br />

sua alma, e <strong>de</strong>pois fez os seus lábios testemunharem <strong>de</strong> que ainda por entre os<br />

lábios <strong>de</strong>le passava o sopro da vida. Nasceram-lhe espontaneamente os <strong>de</strong>svelos<br />

<strong>de</strong> mãe, e, solícita, trat<strong>ou</strong> <strong>de</strong> prestar os primeiros Socorros. Coro<strong>ou</strong>-lhe a felicida<strong>de</strong><br />

os esforços; as pálpebras do fazen<strong>de</strong>iro venceram enfim o torpor que as paralisava.<br />

— Está melhor, não é; já está melhor? Sorriu a <strong>de</strong>licada amante.<br />

— Covar<strong>de</strong>s! Murmur<strong>ou</strong> o fazen<strong>de</strong>iro, e cerr<strong>ou</strong> novamente as pálpebras.<br />

A sofreguidão avassal<strong>ou</strong> o ânimo <strong>de</strong> Antonica; não podia mais conter-se;<br />

queria convencer-se <strong>de</strong> que <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> não estava irremediavelmente ferido.<br />

— Escute;. s<strong>ou</strong> eu, Antonica; os malvados já se foram, estamos eu e Carlos.<br />

Tenha ânimo. Deus é gran<strong>de</strong>; há <strong>de</strong> ficar bom.<br />

As palavras da moça chamaram enfim o fazen<strong>de</strong>iro à realida<strong>de</strong>. Sent<strong>ou</strong>-se<br />

cheio <strong>de</strong> espanto, e olh<strong>ou</strong> ao redor <strong>de</strong> si.<br />

Devia julgar-se no curso <strong>de</strong> um pesa<strong>de</strong>lo, porque na verda<strong>de</strong> era incrível tão<br />

nobre <strong>de</strong>dicação na filha do ingrato que lhe pagava os benefícios recebidos com<br />

uma tentativa <strong>de</strong> assassinato.<br />

Não menos para surpreen<strong>de</strong>r era a dor estampada no semblante <strong>de</strong> Carlos.<br />

O generoso escravo esquecia naquele momento que estava em face <strong>de</strong> um senhor,<br />

e chorava como um homem <strong>de</strong> bem a morte <strong>de</strong> um amigo.<br />

— Antonica! Exclam<strong>ou</strong> ele, <strong>de</strong>pois do primeiro espanto; pois é você, minha<br />

filha?<br />

— Vim pedir o seu perdão para a malda<strong>de</strong> <strong>de</strong> meu pai; vim pedir-lhe que não<br />

me tenha ódio; eu não pu<strong>de</strong> evitar, respon<strong>de</strong>u Antonica.<br />

As lágrimas corriam-lhe em fios, e os soluços truncavam-lhe as palavras.<br />

Pairava-lhe sobre o semblante a solenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma boa ação. O amor conquistava<br />

nesta hora um perdão que se podia crer impossível — o perdão do agregado.<br />

— Por que havia eu <strong>de</strong> odiá-la, Antonica? Nem o<strong>de</strong>io a teu pai; são a<br />

embriaguez e a malva<strong>de</strong>za <strong>de</strong> Sebastião os seus anjos maus; perdôo-o sim, porque<br />

tu és boa, és uma santa.<br />

— Eu hei <strong>de</strong> estimá-lo ainda mais. Bom e santo é vosmecê; Deus há <strong>de</strong><br />

pagar-lhe.<br />

Uma efusão <strong>de</strong> ternura imaculada correspon<strong>de</strong>u às palavras <strong>de</strong> Antonica. O<br />

olhar do fazen<strong>de</strong>iro como que criava em tomo <strong>de</strong> si um mundo para os seus<br />

corações afinados ambos pela bonda<strong>de</strong>.<br />

Maquinalmente cingiu contra o peito a meiga filha do agregado e pag<strong>ou</strong> com<br />

um beijo, roçado na sua fronte <strong>de</strong>scorada, tanta coragem e amor.<br />

Mas como se uma força misteriosa os repelisse, este abandono do amor não<br />

<strong>de</strong>mor<strong>ou</strong>-se; os lábios do fazen<strong>de</strong>iro retiraram-se e ao beijo suce<strong>de</strong>u um<br />

estremecimento.<br />

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