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Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Curvando-se sobre o cavalo espore<strong>ou</strong>-o e partiu à brida solta, gritando com<br />

o duplo fim <strong>de</strong> anunciar o próximo socorro e incitar o corredor na sua disparada.<br />

Era uma tosca imitação do <strong>de</strong>speamento indomável do tártaro <strong>de</strong> Mazepa.<br />

Os arbustos, como que amedrontados, passavam semelhantes a relâmpagos por<br />

diante do cavaleiro, e o ar, vibrado violentamente, assoviava o cântico irônico da<br />

vertigem.<br />

Atoleiros, pequenas pontes, tudo era passado <strong>de</strong> súbito. O chio e os cascos<br />

do animal formavam uma engrenagem invisível, rodando com o movimento do<br />

turbilhão.<br />

Não era uma corrida, mas um vôo; as asas emprestavam-nas o temor e a<br />

<strong>de</strong>dicação.<br />

— Upa, upa, bradava continuamente o cavaleiro; upa, valente!<br />

Ao entrar na gran<strong>de</strong> curva do caminho, empinando-se bruscamente sobre as<br />

patas traseiras, o corredor obstin<strong>ou</strong>-se a não seguir e, tomando o freio entre os<br />

<strong>de</strong>ntes, volt<strong>ou</strong> na mesma <strong>de</strong>sfilada.<br />

Era impossível resistir-lhe; Carlos pul<strong>ou</strong> resolutamente e correu.<br />

A p<strong>ou</strong>cos passos do lugar em que o cavalo refugara, jazia <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong><br />

estendido sobre a estrada e banhado em sangue.<br />

— Socorro! Socorro! Mataram o meu senhor, brad<strong>ou</strong> Carlos dando <strong>de</strong> face<br />

com o corpo do fazen<strong>de</strong>iro.<br />

Só o eco incumbiu-se <strong>de</strong> repetir-lhe, como por escárnio, as palavras<br />

cunhadas pela sua aflição, e quando o som da sua voz extinguia-se em sucessivos<br />

sussurros gradativamente esvaecidos, sobrevinha o profundo silêncio da mata, que<br />

exagerava a tristeza do quadro.<br />

— Meu senhor, meu senhor! Continuava o pajem; s<strong>ou</strong> eu, Carlos, o seu<br />

escravo Carlos.<br />

E o aflito rapaz apalpava e sacudia o <strong>de</strong>smaiado com uma impaciência febril.<br />

— Ah! Meu Deus; po<strong>de</strong>m pensar que fui eu. Socorro!<br />

A mão <strong>de</strong> Carlos coloc<strong>ou</strong>-se sobre o coração do fazen<strong>de</strong>iro.<br />

— Está vivo; meu senhor! Diga que não fui eu; diga a todos.<br />

O infeliz pajem <strong>de</strong>lirava e estafava os pulmões em gritos <strong>de</strong> socorro,<br />

disfarçando <strong>de</strong>sta sorte principalmente o temor <strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado o assassino do<br />

seu senhor.<br />

Alguém veio <strong>de</strong>ntro em p<strong>ou</strong>co tempo segundar os seus esforços para<br />

chamar o fazen<strong>de</strong>iro à vida.<br />

Ofegante, com os olhos avermelhados e as mãos trêmulas, Antonica <strong>de</strong>sceu<br />

correndo a pequena la<strong>de</strong>ira, e veio sentar-se junto <strong>de</strong>le, colocando sobre o seu colo<br />

a fronte ensangüentada do fazen<strong>de</strong>iro.<br />

— Morto! Os covar<strong>de</strong>s mataram-no por minha causa, por mim que o amo.<br />

— Não, não diga, o coração <strong>de</strong> meu senhor está batendo, veja.<br />

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