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Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Ainda Antonica não tinha voltado a si da profunda <strong>de</strong>cepção, quando Carlos,<br />

que era quem a saudava, continu<strong>ou</strong>:<br />

— Senhor já pass<strong>ou</strong> por aqui?<br />

Esta pergunta cham<strong>ou</strong> Antonica ao triste pressentimento que a tr<strong>ou</strong>xera até<br />

ali, e acudiu <strong>de</strong> afogadilho:<br />

— Vai, vai já, Carlos; um momento mais e talvez... vai, vai já.<br />

O moleque, talvez recordando a cena a que tinha assistido na sala <strong>de</strong> jantar,<br />

não se <strong>de</strong>ixava comunicar pela ansieda<strong>de</strong> da moça; fic<strong>ou</strong> frio e pergunt<strong>ou</strong> em tom<br />

escarninho:<br />

— Há onça pelo caminho <strong>ou</strong> algum boi bravo?<br />

— Não, não há, mas po<strong>de</strong> haver coisa pior, muito pior; Carlos, uma<br />

emboscada e teu senhor morrerá.<br />

Neste momento atro<strong>ou</strong>, reproduzindo-se por longo tempo no eco, a<br />

<strong>de</strong>tonação <strong>de</strong> um tiro.<br />

Quem neste momento estivesse cerca <strong>de</strong> um quarto <strong>de</strong> légua <strong>de</strong> distância<br />

do lugar em que se achavam Antonica e o pajem, assistiria a uma cena da mais<br />

cruel <strong>de</strong>sumanida<strong>de</strong>.<br />

Sobre a estrada p<strong>ou</strong>co espaçosa inclinavam-se, formando uma abóbada<br />

folhuda e virente, as ramificações e as pontas dos estípites <strong>de</strong> taquaruçus<br />

gigantescos.<br />

Uma contínua escuridão entristecia o lugar, porque a estrada, estreitando e<br />

encurvando-se como um pescoço <strong>de</strong> cisne, fazia com que as árvores marginais<br />

quase entrelaçassem os galhos, improvisando uma espessa cobertura.<br />

Os raios do sol apenas coavam-se, <strong>de</strong>senhando no solo um crivo <strong>de</strong> sombra<br />

e luz que, oscilando à mercê da viração, ora abria as gran<strong>de</strong>s malhas lúcidas, ora<br />

a<strong>de</strong>nsava as largas manchas <strong>de</strong> sombra.<br />

Aí, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o amanhecer, estavam emboscados à espera do fazen<strong>de</strong>iro o<br />

agregado e o violeiro, para executarem um assalto conforme o plano traçado por<br />

este.<br />

Era <strong>de</strong> feito o melhor lugar; não só a estrada estreitava-se, mas ainda fazia<br />

uma <strong>de</strong>pressão, erguendo <strong>de</strong> um lado um alto barranco. O <strong>de</strong>clive ia terminar num<br />

brejo que estendia o seu atoleiro até meio da estrada.<br />

Qualquer transeunte era, portanto, obrigado a aproximar-se muito dos<br />

taquaruçus para não atufar-se no lodo.<br />

Aquele que se emboscasse entre a enorme t<strong>ou</strong>ceira das gran<strong>de</strong>s taquaras<br />

podia sem perigo acometer sem temor <strong>de</strong> represália: <strong>de</strong>fendia-o uma c<strong>ou</strong>raça<br />

tresdobrada.<br />

Quando <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>, no largo e <strong>de</strong>scuidado trote do seu alazão, ia<br />

costeando o meio da gran<strong>de</strong> curva da estrada, Francisco Benedito <strong>de</strong>sfech<strong>ou</strong>-lhe a<br />

primeira paulada, que foi bater no ombro do fazen<strong>de</strong>iro.<br />

O alazão estac<strong>ou</strong> <strong>de</strong> súbito, e o seu dono tom<strong>ou</strong> a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa.<br />

Engatilh<strong>ou</strong> rapidamente a pistola, e esper<strong>ou</strong> com o sangue frio que lhe era peculiar.<br />

O agregado apareceu então sobre a ribanceira.<br />

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