12.04.2013 Views

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

www.nead.unama.br<br />

— Pois não é isto o que se diz por lá; o que consta é que V. S. e seu<br />

compadre já andavam queimados um com <strong>ou</strong>tro.<br />

— Sabem mais do que eu; salvo se o compadre zang<strong>ou</strong>-se porque lhe<br />

or<strong>de</strong>nei que fizesse prontamente a sua casa.<br />

— Não é este o caso, respon<strong>de</strong>u Licério; com franqueza, Sr. Capitão, V. S.<br />

não tem notícia <strong>de</strong> uma carta que foi escrita à Sra. D. Maria?<br />

— Ah! Exclam<strong>ou</strong> o fazen<strong>de</strong>iro admirado, então escreveu-se uma carta a<br />

minha mulher?<br />

— Sim, senhor, eu conheço a pessoa que a escreveu, e sei também que foi<br />

mandada escrever por um dos genros do Chico, se não me engano, o Sebastião, e<br />

sei mais que nesta carta fala-se em V. S. e na menina Antonica.<br />

— O senhor está bem informado, brad<strong>ou</strong> surpreendido o fazen<strong>de</strong>iro?<br />

— Por estar é que lhe aviso; queira indagar e certificar-se-á.<br />

Açulado pela responsabilida<strong>de</strong> que via <strong>de</strong>sempenhar-se <strong>de</strong> chofre sobre si,<br />

<strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> dirigiu-se a Sra. D. Maria, resolvido a liquidar a intriga.<br />

— A senhora vai fazer-me o obséquio <strong>de</strong> mostrar-me uma carta que recebeu<br />

<strong>de</strong> Macabu, disse ele secamente à esposa, a quem tinha convidado para um<br />

gabinete afastado do maior movimento da família.<br />

— A carta dizia-me só respeito, respon<strong>de</strong>u friamente a esposa; li-a e<br />

rasguei-a.<br />

— Então tenha a bonda<strong>de</strong> <strong>de</strong> dizer-me o que lhe mandaram dizer.<br />

— Já não me lembro; mas o senhor se quiser saber bem po<strong>de</strong> ir passar mais<br />

um mês no sítio e confirmar com a sua presença o que me comunicaram.<br />

Esta resposta <strong>de</strong>nunciava claramente qual a gravida<strong>de</strong> da acusação, e por<br />

ela <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> concluiu que não era possível que sua senhora tivesse rasgado<br />

a carta em que a acusação tinha sido feita.<br />

Intim<strong>ou</strong> portanto a sua esposa à imediata entrega do libelo escrito contra a<br />

sua pessoa e obteve-o <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um chuveiro finíssimo <strong>de</strong> ironias.<br />

Podia-se dizer que a maldita carta tinha o laconismo <strong>de</strong> um punhal brandido<br />

por um matador profissional.<br />

Trêmulo <strong>de</strong> cólera o fazen<strong>de</strong>iro leu o seguinte:<br />

"V. Ex. não tem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber quem lhe dirige estas linhas, é um<br />

conselho da prudência escon<strong>de</strong>r o meu nome. Devo entretanto afirmar que fala-vos<br />

um homem <strong>de</strong> bem, e um amigo agra<strong>de</strong>cido, que se julga obrigado a dar-vos um<br />

<strong>de</strong>sgosto para evitar mal maior.<br />

O agregado, que o marido <strong>de</strong> V. Ex. admitiu no sítio, enten<strong>de</strong>u que <strong>de</strong>via<br />

retribui-lo com a pessoa da menina Antonica, hoje convertida em amante do Sr.<br />

capitão.<br />

A ausência <strong>de</strong> V. Ex. incit<strong>ou</strong>-o a não guardar as conveniências e hoje todo o<br />

mundo em Macabu conhece essas relações criminosas <strong>de</strong> um pai <strong>de</strong> família<br />

altamente colocado com a filha <strong>de</strong> Francisco Benedito.<br />

Só V. Ex. po<strong>de</strong>rá evitar as conseqüências que po<strong>de</strong>rá ter este fato; as<br />

exigências não satisfeitas do agregado po<strong>de</strong>m ter sérias conseqüências.<br />

Um amigo <strong>de</strong> V. Ex."<br />

— E a senhora acredit<strong>ou</strong> nesta infâmia? Pergunt<strong>ou</strong> <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>.<br />

— E o senhor por que temeu tanto a vinda <strong>de</strong>sta comunicação que cheg<strong>ou</strong> a<br />

<strong>de</strong>scobri-la?<br />

113

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!