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Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

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www.nead.unama.br<br />

A chegada <strong>de</strong> <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> era esperada com ansieda<strong>de</strong> porque uma<br />

viravolta política tinha abalado o partido conservador campista, do qual o fazen<strong>de</strong>iro<br />

era membro proeminente e influência <strong>de</strong>cidida.<br />

O abalo tinha sido produzido por uma <strong>de</strong>sastrada mudança na chefia do<br />

partido, não por serviços prestados, mas por um simples <strong>de</strong>spacho do governo, que<br />

dava a direção da família conservadora da localida<strong>de</strong> a um novo juiz <strong>de</strong> direito<br />

nomeado.<br />

Esse homem, que começava então a sua carreira política, pensando em tirar<br />

da sua posição proveito, mais útil à sua pessoa do que aos interesses do partido,<br />

inaugur<strong>ou</strong> a sua direção concentrando em si toda a ativida<strong>de</strong> sobre os<br />

correligionários.<br />

Graças à sua inteligência superior e ilustração acatada e reconhecida por<br />

todos, o juiz <strong>de</strong> direito pô<strong>de</strong> em p<strong>ou</strong>co tempo dizer: o partido conservador s<strong>ou</strong> eu.<br />

Mas como sempre essa absorção da coletivida<strong>de</strong> promoveu dissabores que<br />

foram intumescendo silenciosamente a princípio, e mais tar<strong>de</strong> prorromperam em<br />

protestos enérgicos, reduzidos a fatos e estereotipados em uma dissidência<br />

irreconciliável.<br />

<strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>, cordato por índole, ach<strong>ou</strong>-se por isso mesmo a braços com<br />

gran<strong>de</strong>s e insuperáveis dificulda<strong>de</strong>s, visto como insistia no congraçamento dos<br />

campos dissi<strong>de</strong>ntes, único meio <strong>de</strong> fortalecer o partido.<br />

Nada, porém, conseguiu a não ser trabalhos, sacrifícios e <strong>de</strong>cepções.<br />

Enquanto absorvia-se todo no serviço político, a sua atenção não volt<strong>ou</strong>-se<br />

especialmente para os modos <strong>de</strong>scomunais da sua consorte, e no entanto eles eram<br />

por <strong>de</strong>mais sensíveis.<br />

A Sra. D. Maria, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> três dias <strong>de</strong>pois da chegada <strong>de</strong> <strong>Coqueiro</strong>, não era a<br />

mesma. O seu coração parecia andar envolvido numa atmosfera <strong>de</strong> gelo, e uma<br />

frieza quase in<strong>de</strong>licada recebia por ela todas as comunicações mais expansivas do<br />

marido.<br />

Um dia em que, ao <strong>de</strong> leve, o fazen<strong>de</strong>iro apercebeu-se da indiferença da<br />

Sra. D. Maria, e lha observ<strong>ou</strong> com benevolência, a ressentida senhora, escon<strong>de</strong>ndo<br />

no aveludado da palavra uma censura amarga, respon<strong>de</strong>u-lhe com aparente<br />

simplicida<strong>de</strong>.<br />

— O senhor não tem razão para enfadar-se; é preciso que eu preste toda a<br />

minha atenção aos interesses <strong>de</strong> nossa casa, agora que o senhor se ocupa<br />

exclusivamente com os estranhos.<br />

<strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> tinha, <strong>de</strong> feito, achado ocasião para a advert6Encia amistosa<br />

no meio <strong>de</strong> uma conversa relativa ao partido Foi ao terminar a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> um<br />

ataque <strong>de</strong>cisivo ao rei da situação política <strong>de</strong> Campos que a sua vaida<strong>de</strong> fi-lo notar a<br />

indiferença da Sra. D Maria.<br />

Longe <strong>de</strong> irritar se com a resposta, <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> procur<strong>ou</strong> acalmar a<br />

esposa e prometeu-lhe, rindo com o <strong>de</strong>sembaraço da confiança, livrar se o mais<br />

<strong>de</strong>pressa possível dos enredos partidários aos quais atribuía o mau humor que lhe<br />

tinha sopitado o entusiasmo <strong>de</strong>scritivo.<br />

O fazen<strong>de</strong>iro, porém, enganava-se radicalmente quanto ao verda<strong>de</strong>iro<br />

motivo <strong>de</strong> queixa da sua consorte.<br />

A fonte da <strong>de</strong>sarmonia conjugal era uma esperteza do moleque Carlos, em<br />

dar conta <strong>de</strong> uma empresa a que se comprometera com Manuel João.<br />

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