12.04.2013 Views

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

"Compadre.<br />

Ao sair do sítio tinha-lhe pedido que se apressasse a fazer a sua casa no<br />

lugar que <strong>de</strong>marquei para servir-lhe <strong>de</strong> situação. O tempo que o compadre gast<strong>ou</strong><br />

para levar a efeito esta condição do trato que <strong>de</strong> viva voz fizemos, quando entr<strong>ou</strong><br />

para nossa casa, faz-me crer que o compadre ainda não começ<strong>ou</strong> o trabalho, <strong>ou</strong><br />

que não o terá muito adiantado. Aconselho-lhe agora que <strong>ou</strong> não comece, <strong>ou</strong> pare a<br />

construção.<br />

A razão por que lhe aconselho isto é ter <strong>de</strong>liberado montar melhor o meu<br />

sítio, e tirar proveito <strong>de</strong>le <strong>de</strong> todos os modos.<br />

Sabe o compadre que o sitio não tem gran<strong>de</strong> extensão e por isso não posso<br />

mais dispensar terras para estabelecimento <strong>de</strong> agregados; ao contrário preciso <strong>de</strong><br />

adquirir maior terreno.<br />

Proponho-lhe um negócio que lhe será vantajoso; o compadre passar-me-á<br />

por uma avaliação as suas benfeitorias e ficará morando no casarão até que eu lhe<br />

possa arranjar um <strong>ou</strong>tro fazen<strong>de</strong>iro que tenha terras <strong>de</strong>volutas.<br />

Recomendo-me a todos e faço votos para a inteira cura da Antonica."<br />

— Não se po<strong>de</strong> crer em tanta infâmia, exclam<strong>ou</strong> o sub<strong>de</strong>legado, ao terminar<br />

a leitura.<br />

— Eu já esperava por esta, ajunt<strong>ou</strong> Sebastião; ele é capaz <strong>de</strong> mais ainda.<br />

Francisco Benedito vociferava como um possesso contra o compadre, e<br />

lastimava-se ao mesmo tempo, e concluiu por uma interrogação e uma ameaça.<br />

— Eu só queria saber quem foi o <strong>de</strong>mônio que me indispôs <strong>de</strong>sta sorte com<br />

o diabo do malvado; havia <strong>de</strong> moê-lo a pauladas; <strong>de</strong>sse no que <strong>de</strong>sse.<br />

— Nada é mais simples do que <strong>de</strong>scobrir a causa, interveio Viana; procure<br />

bem por aqui mesmo; indague bem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua casa e verá.<br />

Todos olharam-se espantados, e cada um sentiu-se vexado como os<br />

apóstolos quando o Cristo anunci<strong>ou</strong> a sua próxima traição por um dos que com ele<br />

se reuniam no Cenáculo.<br />

Antonica foi quem sofreu o golpe mais ru<strong>de</strong>; tinha a certeza dolorosa <strong>de</strong> que<br />

as palavras <strong>de</strong> Viana eram o prólogo <strong>de</strong> uma vingança <strong>de</strong>sapiedada e inexorável.<br />

Sentiu faltarem-lhe as forças e não pô<strong>de</strong> retirar-se da sala, como era seu <strong>de</strong>sejo.<br />

— Eu v<strong>ou</strong> contar uma história, exclam<strong>ou</strong> Sebastião no meio da perplexida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> todos; é uma história que me contaram há muito tempo. Havia um trabalhador já<br />

idoso que tinha muitos filhos, entre os quais algumas moças, que todos diziam ser<br />

muito bonitas. Um dia o velho ach<strong>ou</strong>-se meio do mato sem casa on<strong>de</strong> morar, sem<br />

trabalho; uma <strong>de</strong>sgraça. Um fazen<strong>de</strong>iro da vizinhança mostr<strong>ou</strong> ter dó <strong>de</strong>le e<br />

cham<strong>ou</strong>-o para a sua casa, mas infelizmente o velho tinha filhas que eram umas<br />

jóias, e o fazen<strong>de</strong>iro gost<strong>ou</strong> <strong>de</strong>las. Queria <strong>de</strong>ste modo cobrar-se do favor que tinha<br />

feito. O que h<strong>ou</strong>ve, o que não h<strong>ou</strong>ve entre as moças e ele não sei, não me<br />

contaram; o certo é que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que as moças foram pedidas em casamento o<br />

fazen<strong>de</strong>iro começ<strong>ou</strong> a maltratar e a perseguir o pai a quem tinha antes protegido.<br />

Ora eis aí como foi o caso; entr<strong>ou</strong> por uma porta, saiu por <strong>ou</strong>tra e manda elrei<br />

que conte <strong>ou</strong>tra.<br />

A aplicação da história contada pelo violeiro era fácil <strong>de</strong>mais para que todos<br />

imediatamente não a fizessem. O sub<strong>de</strong>legado que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio do conto<br />

105

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!