Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
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www.nead.unama.br<br />
Além disso, Antonica e Chiquinha, que tinham chegado por último à reunião,<br />
conservavam-se visivelmente tristes, e mantinham tão gran<strong>de</strong> reserva com os<br />
circunstantes que foi necessário explicar pela moléstia este fato inesperado.<br />
No fim do jantar o sub<strong>de</strong>legado Oliveira, a quem já o gárrulo agregado havia<br />
anunciado o próximo enlace <strong>de</strong> Antonica com o ven<strong>de</strong>iro, admirado do afastamento<br />
requintado entre os noivos, acerc<strong>ou</strong>-se do inspetor André e disse-lhe muito à<br />
purida<strong>de</strong>:<br />
— Oh! Seu André, não lhe parece que anda caça escondida neste mato?<br />
— V. S. que o diz é porque é; mas também se há é tão arisca que há <strong>de</strong><br />
custar a sair da toca.<br />
— Pois bem, fique você na espera, com todos os cinco sentidos, enquanto<br />
eu v<strong>ou</strong> pôr-lhe os cachorros.<br />
— Mais fácil é ser mordido por uma jararaca do que arredar pé um<br />
momento, respon<strong>de</strong>u o inspetor, aproveitando o encaixe para um riso apigarrado <strong>de</strong><br />
adulação.<br />
Á p<strong>ou</strong>ca distância <strong>de</strong>stes interlocutores conversavam muito intimamente o<br />
ven<strong>de</strong>iro e o violeiro. Graves questões <strong>de</strong>batiam a julgar pela gesticulação animada<br />
e um certo ar <strong>de</strong> irresolução que envolvia o ven<strong>de</strong>iro.<br />
O sub<strong>de</strong>legado tom<strong>ou</strong> nota do que se passava entre os dois e bem assim do<br />
olhar atento com que Antonica os seguia, não obstante parecer completamente<br />
absorvida em uma conversação com Chiquinha.<br />
Batendo as palmas jovialmente, Oliveira ach<strong>ou</strong>-se logo cercado por todas as<br />
pessoas presentes, e começ<strong>ou</strong> no tom mais cordial <strong>de</strong> memória <strong>de</strong> homens:<br />
— Para aqui junto <strong>de</strong> mim, Sr. Chico! Eu não meto prego sem estopa. Digame<br />
cá, não se fazem os convites para o recebo a vós? An<strong>de</strong> lá que parece querer<br />
<strong>de</strong>ixar-me ficar no tinteiro?<br />
— Bem falado, meu senhor, muito bem falado, respon<strong>de</strong>u o agregado; mas<br />
eu não s<strong>ou</strong> o dono da festa, a culpa é toda do Viana que, sempre que a gente fala<br />
no caso, fica estranhão como uma criança <strong>de</strong> peito.<br />
— Pois isto não se faz aos amigos, Sr. Viana, continu<strong>ou</strong> o sub<strong>de</strong>legado, à<br />
medida que caminhava para o ven<strong>de</strong>iro.<br />
Pondo-lhe <strong>de</strong>pois as duas mãos sobre os ombros e sacudindo-o<br />
amigavelmente prosseguiu:<br />
— Já tem padrinhos, seu maganão? O segredo nestes negócios é gran<strong>de</strong><br />
toleima.<br />
Viana, porém, não <strong>de</strong>u em resposta senão o riso alvar da aquiescência<br />
contrafeita e Antonica <strong>de</strong>nunci<strong>ou</strong> claramente a repugnância que lhe causava a<br />
audição <strong>de</strong> palavras referentes ao consórcio.<br />
— É novo isto, exclam<strong>ou</strong> Oliveira, os noivos parece que se zangam com a<br />
gente porque lhes fala no casamento. O Viana está macambúzio como um boi<br />
mordido <strong>de</strong> cobra, e a Antonica amarel<strong>ou</strong> como uma flor <strong>de</strong> abóbora. Está bom, está<br />
bom, não se casam, não; quem é que disse que vocês se casavam? Ora é boa, não<br />
faltava mais nada; calúnias! Há muito rná-língua neste mundo.<br />
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