Hélio Rebello Cardoso Júnior - ICHS/UFOP
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portanto, situações provisórias que ficam sufocadas por uma legalidade que<br />
não dá trégua, apesar de que, em seu caráter provisório ela não seja menos<br />
necessária. A amizade, num sentido amplo, é aquilo que nutre essa<br />
necessidade do provisório.<br />
Mas, além da provisoriedade, em que mais a amizade, hoje, tem a ver<br />
com o silêncio e menos com a convivência falante ou confessional, como no<br />
passado?<br />
Vejamos um exemplo contemporâneo.<br />
O filósofo Deleuze e o escritor Dionys Mascolo trocaram algumas<br />
poucas cartas em 1988; nelas temos encontramos uma reflexão sobre a<br />
maneira se é amigo em nosso tempo (DELEUZE, 2003). Eles estão de acordo<br />
sobre o fato de que amizade continua sendo a condição para pensar e para<br />
procurar o prazer da companhia, entretanto, os amigos não são mais como os<br />
os gregos que se encontravam para conversar em torno de um determinado<br />
objeto ou assunto cujo conceito se queria conquistar. Ser amigo não significa<br />
mais necessariamente estabelecer um diálogo, já que a amizade penetrou uma<br />
área movediça onde é difícil para dois ou mais amigos caminharem. Isso<br />
acontece, pois o diálogo que se trava livremente entre amigos está cercado por<br />
uma louca produção de discursos que penetra e exaure o próprio veio inventivo<br />
da amizade. Como diz Deleuze de modo peremptório: “estamos trespassados<br />
de palavras inúteis, de uma quantidade demente de falas e imagens. A besteira<br />
nunca é muda nem cega” (DELEUZE, 1977, p. 177).<br />
Os diálogos da amizade são inseminados por regimes discursivos<br />
gerados alhures e que capturam sua produtividade a fim de endurecer<br />
dispositivos de controle. Enfim, a quantidade demente de falas e imagens