Hélio Rebello Cardoso Júnior - ICHS/UFOP
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que eu atravessasse certo pátio da escola, fingindo que conversávamos, como<br />
se nos entendêssemos há muito tempo. Atendi a seu pedido maluco! Ora, eu<br />
não fiquei sabendo se aquele gesto tinha algum propósito concreto, de<br />
interesse particular do colega, e que só ele sabia, ou se era um puro delírio. Eu<br />
nunca fiquei sabendo, nem perguntei, mas a partir de então eu já sabia que era<br />
amigo dele e que isso não poderia ser mudado, que era independente de mim.<br />
Praticar aquela pequena loucura com ele me colocou em um outro mundo e, de<br />
repente, eu estava menos infeliz. As amizades começam sempre quando<br />
somos tomados por essas forças estranhas, mesmo que o acontecimento seja<br />
tranqüilo e nem tão estranho como o que me tornou amigo de outro nesse<br />
episódio aqui resumido.<br />
Outra pergunta: ser amigo muda historicamente? Há modos históricos<br />
de ser amigo?<br />
Sempre se escreveu muito sobre a amizade no Mundo Antigo. Ela<br />
sempre foi um princípio sem o qual seria impossível pensar; também não era<br />
possível viver em um mundo democrático sem que as relações tivessem um<br />
quê de igualdade, como numa reunião de amigos; da mesma forma, amizade<br />
entre os antigos sempre foi considerada um meio de conhecer a si mesmo,<br />
sem ter um amigo era impossível saber a verdade sobre si, etnão, a amizade<br />
era uma espécie de exercício ascético. Bem, não somos mais gregos, nem<br />
cristãos, nem somos pessoas do século XIX, então, necessariamente nossas<br />
amizades não podem acontecer como se fôssemos gregos, cristãos ou<br />
pessoas do séc. XIX. Por isso é importante compreender o que os antigos<br />
sabiam sobre a amizade, mas isso não resolve nosso problema.