Hélio Rebello Cardoso Júnior - ICHS/UFOP
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poder do que seu interlocutor. É uma condição de dizer a verdade, tem de<br />
haver um degrau social ou de status: o falante tinha de provocar a ira ou ferir o<br />
interlocutor, pois a verdade que ele profere atinge a própria posição de poder<br />
de quem ouve. Pela mesma razão, a parrhesia é pouco praticada por aqueles<br />
que estão por cima; aqueles que têm algum poder, certamente, podem falar a<br />
verdade, mas pouco arriscam com isso. A verdade sempre vem debaixo,<br />
daquele que está em posição de inferioridade.<br />
Com todas essas características principais, a atividade de falar a<br />
verdade nos conduz a um paradoxo. É que sua prática não significa apenas<br />
que aquele o enunciador e o interlocutor mudam sua opinião, pois eles mudam<br />
também seu modo de vida. Sendo assim, só se pode dizer que temos uma<br />
verdade, no sentido grego da parrhesia, quando a verdade tem um efeito<br />
prático sobre a conduta de nossa vida, quando a verdade dita, que contraria ou<br />
provoca a ira do interlocutor, leva a um outro conhecimento ou a uma verdade<br />
para além daquela que foi colocada em cheque. Então, o paradoxo de falar a<br />
verdade e mudar, na sua forma mais simples é o seguinte: só há verdade<br />
quando, ao mesmo tempo, deixa-se de ser aquilo que se é e torna-se<br />
diferente; ou, ainda, falar a verdade não leva a uma estabilidade, mas a<br />
uma mudança no modo de ser.<br />
A questão dos paradoxos acima descritos e, portanto, do sentido<br />
histórico dos mesmos, como aventamos inicialmente, é o de seu caráter<br />
operatório. Afinal, como garantir que esses paradoxos funcionem na prática?<br />
Como explicar sua vigência?