Hélio Rebello Cardoso Júnior - ICHS/UFOP
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não é totalmente correto afirmar que aquele que fala a verdade prova que o diz,<br />
pois ele é apenas reconhecido pelo público como sendo capaz desse ato.<br />
A coragem de dizer a verdade não era a única qualidade moral pela qual<br />
se reconhece aquele que realmente fala a verdade, já que a prova da verdade<br />
implicava sempre um perigo ou risco para aquele que a proferia. Por exemplo,<br />
quando falamos a um amigo a verdade, apesar de que isso possa ferir seus<br />
sentimentos e, até, deturpar ou destruir nossa amizade, estamos praticando<br />
uma espécie de parrhesia, isto é, nós temos de ter a coragem de falar apesar<br />
do risco que ela acarreta. Nesse sentido, falar a verdade também é uma<br />
relação para consigo mesmo, pois quem fala escolheu o risco de dizê-la ao<br />
invés de acomodar-se em um mundo onde a verdade permanece calada; o<br />
falante não pode conviver com a ideia de que é falso para consigo mesmo.<br />
A parrhesia requeria coragem e trazia um risco, como dissemos, porque<br />
ela contrariava a audiência ou o interlocutor com uma verdade que este não<br />
queria ouvir. Nesse sentido, isso pode se confundir, por exemplo, com a<br />
autoridade de um professor. Eu, falando aqui de cima, com meus títulos e<br />
experiência, ao ensinar Filosofia estaria praticando uma espécie de parrhesia,<br />
pois eu sei que o falo é verdade. E eu corro o risco de ser constestado, algum<br />
pode vir e demonstrar que aquilo que venho falando é besteira e que existe<br />
outra verdade maior e mais evidente. Mas, como vimos, a parrhesia não é uma<br />
questão de demonstração da verdade. O professor fala e deve falar verdade,<br />
mas, como ele tem autoridade com relação aos alunos ou sua audiência os<br />
riscos são menores ou são minorados por sua posição proeminente. Então,<br />
não temos parrhesia quando o falante ocupa posição de maior poder que seu<br />
interlocutor. Pelo contrário, aquele que fala a verdade tem sempre menos