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postulando medidas e idéias contraditórias com a sua tradicional identidade política, cabe perguntar<br />
se o que existe hoje como dominante no seu interior e algo absolutamente divorciado da trading,<br />
peronista. ;<br />
Como vimos, do ponto de vista econômico-social ha uma mudança profunda nas concepção<br />
dominantes dentro do peronismo - dizemos dominantes porque ha filiados e grupos organizados dentro,<br />
do partido e do sindicalismo peronista contrários as teses defendidas por Menem. Mas, de outro lado<br />
também e possível detectar uma serie de aspectos que guardam uma significativa relação d e<br />
continuidade com determinadas tradições do peronismo.<br />
Recorrendo permanentemente a antinomia nação / anti-nação, o peronismo tem recortado<br />
o campo político de modo a definir quem e "amigo" e "inimigo", quem esta e quem não esta ao lado<br />
da pátria. Profundamente maniqueísta, uma contrapartida dessa operação ideológica e a adesão<br />
explícita a um anticosmopolitismo político e cultural que vê, por exemplo, o liberalismo e o<br />
socialismo como correntes ideológicas exteriores ao verdadeiro caráter da nacionalidade argentina. Ao<br />
lado disso, continua exaltando o cristianismo enquanto sustentáculo dos valores genuinamente<br />
argentinos.<br />
Outro traço de continuidade e a desvalorização da democracia política e dos seus mecanismos<br />
de representação em favor do apelo direto ao povo. Nesse sentido, privilegia-se a identificação líder-povo,<br />
lider-nação, produzindo um deslocamento da legitimidade do sistema político ela provem menos dos<br />
mecanismos eleitorais inerentes a democracia representativa do que da'5 correspondência com os interesses<br />
fundamentais da nação. O governo tem produzido uma política dei Estado em que os interlocutores<br />
principais são os grupos de interesses corporativos-empresarios militares, sindicatos de trabalhadores e<br />
Igreja católica - tradicionalmente qualificados pelo peronismo como as agrupações mais representativas da<br />
na{ao. Menem personifica um peronismo que continua' submerso numa cultura política autoritária. A<br />
política tende a ser concebida pelo governo sob a lógica da guerra - com os atores sendo interpelados de<br />
forma extremamente maniqueísta '-, em que aos adversários não resta outra alternativa senão aniquilar-se.<br />
Nessa perspectiva, herdada da tradição peronista, trata-se, pois, de destruir - sem reconhecer a<br />
legitimidade - os adversários políticos, considerados defensores de interesses externos, alheios a nação<br />
argentina.<br />
Para concluir, pode-se afirmar que a política econômica implementada por Menem esta<br />
enterrando a concepção populista que o peronismo teve ao longo da sua história a respeito da gestão da<br />
economia. Entretanto, do ponto de vista político, podemos observar uma grande continuidade em<br />
determinados aspectos autoritários da cultura política peronista. Atualmente, as posi9oes defendidas por<br />
Menem são dominantes na direção do Partido Peronista e tendem a gerar uma crise profunda no seu<br />
interior, que por ora não e possível prever o desfecho. Mas, e certo que as iniciativas ate agora' tomadas<br />
pelo governo e as concepções subjacentes ao peronismo não são nada estimulantes para a I construção de<br />
uma sociedade moderna baseada na democracia e no pluralismo, demandas estas produzidas pela<br />
própria modernidade, e que em algum momento hão de querer cobrar os seus direitos.<br />
NOTAS<br />
1-Nascido em La Riojá, província do norte argentino, Carlos Menem procura mostrar-se ao público como um<br />
continuador da luta do caudilho mais famoso da região, Facundo Quiroga, imortalizado no livro Fagundo de<br />
Domingo Faustino Sarmiento, como modelo da barbárie, segundo uma visão liberal da época.<br />
<strong>LPH</strong> – Revista de História, v. 2, n 1, p. 05-16, 1991<br />
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