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REVISTA LPH Nº 2. pdf - ICHS/UFOP

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português nos trópicos, com peculiaridades de miscigenação democratizante, do ponto de vista<br />

étnico. Não pertencemos mais ao mesmo todo, ao menos aquele conjunto de instituições que<br />

mantiveram por longos séculos um dos mais pesados aparelhos burocráticos de toda a História,<br />

de que o sistema colonial, o escravismo, o corporativismo, a repressão ideológica da Contra-<br />

Reforma e suas sutis remanescências de longue duree foram componentes indissociados.<br />

Nesta retomada critica, vale recuperar toda uma linhagem de pensamento que, no Brasil,<br />

em Portugal e na África, opôs sistematicamente a poderosa concepção de cultura harmônica desse<br />

mundo resultante da expansão colonial "civilizadora". Pensadores do calibre de V. Magalhães<br />

Godinho em Portugal ou do angolano Mario de Andrade sempre estiveram vigilantes na critica a<br />

essa visão paralisante de História - que abrigava uma auto-satisfeita consciência amena de<br />

atraso, distanciando-nos da contemporaneidade da história mundial 1 .<br />

Também no Brasil, a crítica, desde muito cedo, se manifestou contra a interpretação<br />

freyreana, defensora de uma suposta especificidade do "Novo Mundo nos Trópicos". Se Casa<br />

Grande e Senzala, a obra-mestra de Gilberto Freyre, aparece em 1933 com ingredientes<br />

modernizantes, provocando até mesmo repúdio de setores mais reacionários por dessacralizar os<br />

heróis da raça branca gerados nos Institutos Históricos e Geográficos, note-se que nesse mesmo<br />

ano surgia a crítica do historiador Caio Prado Junior (Evolução Político do Brasil e Outros<br />

Estudos). O conjunto de sua obra certamente representa o início do redescobrimento do Brasil,<br />

anunciando "um método relativamente novo" dado pela interpretação materialista. Organiza as<br />

informações de maneira a não incidir e esgotar o enfoque "na superfície dos acontecimentos -<br />

acelera sertanistas, entradas e bandeiras; substituições de governos e governantes; invasões ou<br />

guerra". Para o historiador paulista, esses acontecimentos constituem apenas um reflexo (termo<br />

que parasitara muitas das explicações posteriores) exterior daquilo que se passa no íntimo da<br />

História. Caio redefiniu a periodização corrente, valorizando os movimentos sociais do<br />

século XIX como Cabanada, Sabinada e Praieira e demonstrando que "os heróis e os grandes<br />

feitos não são heróicos e grandes senão na medida em que acordam com os interesses das classes<br />

dirigentes em cujo beneficio se faz a História oficial". Uma critica vigorosa e fundamentada a<br />

Historiografia oficial ficava estabelecida, ao mostrar que autores difundidos como Rocha Pombo,<br />

em volumes alentados e em manuais, dedicavam simples notas de rodapé a movimentos<br />

populares do porte da Cabanada (Pará/1833-1836). A preocupação em explicar as relações sociais<br />

a partir das bases materiais, apontando a historicidade do fato social e do fato econômico,<br />

colocava em xeque a visão mitológica que impregnava a explicação histórica dominante. Criavase<br />

um novo paradigma: era o inicio da critica a visão monolítica do conjunto social, gerada no<br />

período oligárquico da recém-derrubada Primeira Republica (1889-1930). Com as<br />

interpretações de Caio Prado Junior, as classes emergentes pela primeira vez nos horizontes<br />

de explicação da realidade social brasileira - enquanto categoria analítica. Seus outros livros<br />

(Formação do Brasil Contemporâneo, 1942, principalmente) aprimoraram nosso instrumental<br />

conceitual, formulando uma sofisticada teoria das classes, da coloniza? Ao enquanto sistema e das<br />

idéias. Mas note-se: estudou o sentido da colonização e o peso dos componentes do sistema<br />

colonial para avaliar suas persistências na vida brasileira.<br />

Pouco depois, Antonio Candido, professor de Sociologia pertencente a um grupogeração<br />

mais jovem, formado sob o Estado Novo (1937-1945), já manifestava em seu<br />

depoimento a Plataforma da Nova Geração (1944) repudio ao funcionalismo nos estudos de<br />

cultura, pois apagava as diferenças e suavizava os crescentes conflitos vividos pela sociedade<br />

brasileira na esteira das greves de 1917 e dos movimentos de 1922, 24,26,30,32 e 35.<br />

A concepção de ciclo ou circulo cultural (...) leva quase que necessariamente a de função: a de<br />

interdependência necessária entre os traços de uma cultura e da sua<br />

<strong>LPH</strong> – Revista de História, v. 2, n 1, p. 05-16, 1991<br />

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