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Quem tem medo da pesquisa empírica? - Portcom - Intercom

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A Comunicação no campo científico<br />

Oitenta anos se passaram desde os primeiros registros de esforços<br />

para compreender cientificamente a comunicação, mas a área ain<strong>da</strong> vive<br />

as crises de um campo de estudo em formação. O ambiente desse conflito<br />

é o campo científico, conceituado por Bourdieu (1983) como um campo<br />

social específico, que possui dinâmicas próprias de trocas, de acumulação<br />

de capitais (valores simbólicos), de lutas entre dominantes e dominados.<br />

Nessa dura reali<strong>da</strong>de do cotidiano científico, a jovem Comunicação<br />

enfrenta os dilemas <strong>da</strong> busca por legitimação científica: não sabe se re-<br />

produz paradigmas e métodos já consoli<strong>da</strong>dos para, assim, conseguir ser<br />

bem vista pelas ciências ortodoxas; ou se adota uma atitude heterodoxa,<br />

desvencilhando-se <strong>da</strong>s amarras de uma ciência caduca para revolucionar<br />

o modo de ser e se fazer ciência.<br />

E nessa indecisão típica de sua imaturi<strong>da</strong>de, a Comunicação acaba<br />

acumulando as problemáticas de posicionar-se ora tradicionalmente, ora<br />

revolucionariamente de forma pouco crítica. Exemplo prático de uma<br />

tentativa de legitimação <strong>da</strong> Comunicação por meio <strong>da</strong> reprodução <strong>da</strong><br />

ordem hegemônica foi o empréstimo histórico de conceitos, métodos e<br />

teorias de outras ciências, constituindo-se de uma natureza interdiscipli-<br />

nar que hoje causa diversos conflitos de identi<strong>da</strong>de. Atitude tão incon-<br />

sequente quanto essa, é a atual tentativa de resolver a problemática <strong>da</strong><br />

interdisciplinari<strong>da</strong>de, tomando-a como essência incontestável, aceitando<br />

de forma pouco crítica a importação de paradigmas; dessa forma, evita-<br />

-se mexer em uma feri<strong>da</strong> muito mais profun<strong>da</strong>, que <strong>tem</strong> a ver com a<br />

formação epis<strong>tem</strong>ológica <strong>da</strong> Comunicação (MARTINO, 2007).<br />

Mas, parecemos estar vivendo um momento interessante <strong>da</strong> História <strong>da</strong><br />

humani<strong>da</strong>de em que o homem começa a voltar os olhos para si, questionando<br />

o moderno estilo de vi<strong>da</strong> que construiu a partir do século XVI. No âmbito <strong>da</strong><br />

Ciência, que se constituiu por um discurso progressista, vemos, no século XX,<br />

a conscientização de que a própria razão científica, que nasceu para substituir<br />

os mitos teológicos, tornou-se um novo mito (BOURDIEU, 1983).<br />

434 • <strong>Quem</strong> <strong>tem</strong> <strong>medo</strong> de <strong>pesquisa</strong> <strong>empírica</strong>?

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