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Quem tem medo da pesquisa empírica? - Portcom - Intercom

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– que é por natureza artista e poeta.” Ou, como cantava Keats, a<br />

ver<strong>da</strong>de é beleza, por isso é que o conhecer é do domínio <strong>da</strong><br />

ciência e o sentir, do domínio <strong>da</strong> arte.<br />

54. Aceitar essas ver<strong>da</strong>des não significa discordância com, por exem-<br />

plo, George Steiner, quando este escreve: “ Quaisquer que sejam<br />

os seus dilemas ou limitações potenciais, a ciência <strong>tem</strong> sido, a ciência<br />

permanecerá a iluminadora filha <strong>da</strong> razão. A ameaça <strong>da</strong> loucura po-<br />

lítica e do fanatismo infantil raramente foram tão insistentes. Nem a<br />

terapia <strong>da</strong> ciência, <strong>da</strong> tolerância racional que a ciência contém, mais<br />

necessária”. Estamos de acordo, desde que essa proclamação não<br />

queira estabelecer uma inaceitável separação entre a ciência teó-<br />

rica e a ciência experimental, pois, como recor<strong>da</strong>, Dennis Flana-<br />

gan, “ a teoria não <strong>tem</strong> sentido sem a experimentação e a experimen-<br />

tação não <strong>tem</strong> sentido sem a teoria”.<br />

55. Essa separação, que, no entanto, muitos fazem, <strong>tem</strong> sido a grande<br />

responsável pela crise <strong>da</strong>s ciências <strong>empírica</strong>s, exatamente porque<br />

estas têm na observação, que o mesmo é dizer na teoria, o seu<br />

campo privilegiado de ação. Infelizmente, neste nosso <strong>tem</strong>po de<br />

globalização e de predomínio <strong>da</strong> economia financeira, que é es-<br />

sencialmente virtual e, por isso, divorcia<strong>da</strong> <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, existe<br />

uma forte recessão <strong>da</strong> teoria causa<strong>da</strong>, em particular, pelo recuo<br />

do ensino e do estudo <strong>da</strong> filosofia e pelo distanciamento, para<br />

não dizer ignorância, do modelo analítico <strong>da</strong>s ciências huma-<br />

nas e sociais consagrado por Pierre Bourdieu, que a hegemonia<br />

anglo-americana de Talcott Parsons e Paul Lazarsfeld <strong>tem</strong> vindo<br />

a ameaçar.<br />

56. Não se diga, portanto, que a recessão <strong>da</strong> teoria, <strong>da</strong> crítica e <strong>da</strong><br />

reflexão – instrumentos fulcrais para o pensamento científi-<br />

co – resulta de <strong>medo</strong>s ou de limitações proclamados em nome<br />

do empirismo ou do narrativismo ou dos “cultural studies” como<br />

300 • <strong>Quem</strong> <strong>tem</strong> <strong>medo</strong> de <strong>pesquisa</strong> <strong>empírica</strong>?

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